Em Paris, começaram por ser 26 mil pares de sapatos a marchar, alguns expostos na Praça da República, outros diretamente doados a quem precisa. A seguir, foi um cordão com 5 mil pessoas. No recinto da Cimeira do Clima, em Paris, foram entregues aos delegados, durante dias seguidos, mensagens de alerta em papel, por email, em demonstrações imaginativas. Foram os “Fósseis do Dia” que assinalaram quem mais bloqueou o progresso das negociações. Foi um urso polar gigante robotizado, que rosnava, como que fazendo um apelo, à entrada da suposta avenida dos Campos Elísios, por entre os pavilhões da COP, em Le Bourget. Foram centenas de ativistas a apelar à meta de 1,5 graus Celsius junto à Torre Eiffel em miniatura no fim da avenida. Foram as vozes de milhares de pessoas de todo o mundo a serem ouvidas a apelar a zero emissões. Foi uma linha vermelha em tecido ao longo de muitos metros na mesma avenida. Foram todos estes apelos que ministros, primeiros-ministros, chefes de estado com certeza ouviram, que lhes mudarão a responsabilidade para com o planeta e para com as próximas gerações, principalmente para com as populações mais vulneráveis?

O texto final de proposta de Acordo de Paris é um marco histórico, pelo menos tão significativo como o Protocolo de Quioto assinado em 1997. Estamos numa fase crucial em que a comunidade internacional, depois do falhanço de Copenhaga, em 2009, não conseguiria sobreviver a próximas negociações num quadro multilateral se não tivesse havido resultados. Mais do que um Acordo de um momento, trata-se de um processo que agora se inicia, que envolve todos os países dada a sua formulação legal cautelosa, mas vinculativa, e que prevê um aumento de ambição em cada revisão dos compromissos nacionais.

O Acordo de Paris, com assinatura simbolicamente prevista para o Dia da Terra, 22 de abril, nas Nações Unidas em Nova Iorque, num evento de alto nível promovido pelo Secretário-Geral Ban Ki-moon, ainda não satisfaz cada um dos países, nem a emergência para a qual a sociedade civil e os cientistas têm alertado, mas traça um caminho de futuro com esperança.

Professor universitário no CENSE-FCT/UNL

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