Muito se tem falado da mais recente vaga de emigração portuguesa. Trabalhar noutro país não é nem pode ser um estigma. No mundo globalizado em que vivemos, todos os dias nos deparamos com histórias e imagens que despertam a nossa curiosidade e nos fazem ter vontade de rasgar horizontes e conhecer novas realidades. Porém, os jovens que hoje emigram, fazem-no principalmente por razões que nada têm a ver com este idealismo. Partem porque não encontram uma oportunidade de trabalho ou porque lá fora encontram projetos mais aliciantes e melhores salários.

Há também quem fique, a lutar e a dar o melhor de si pelo seu sucesso individual e pelo nosso sucesso coletivo. Ou então, com uma atitude inerte, a bramir inconsequentemente contra tudo e contra todos à espera que tudo mude e melhore sem nada contribuir para uma solução. Um país em recuperação de uma grave crise, com um crescimento económico incipiente e com uma economia em restruturação não cria empregos para todos nem os cria com as melhores condições.

A emigração é uma solução que tem de ser encarada como uma oportunidade e não necessariamente como uma fatalidade. Não é necessariamente a fuga sem retorno de uma geração altamente qualificada e a mais bem preparada de sempre. Podemos emigrar “à anos 60”, saltar para o desconhecido, desconfiados, amargurados, a invocar a fuga da pobreza, a protestar contra um Estado que não cria empregos, que falha na educação e na justiça, que não garante cuidados de saúde e que nem as pensões assegura. É uma forma de encarar a situação, mas uma forma cansativa e desgastante, para todos!

A alternativa é emigrar “à descobrimentos”, porque queremos, porque é o melhor para nós. Porque sabemos o que queremos e somos capazes de mais e melhor. Traçar um plano, suficientemente flexível para admitir desvios de rota, como os que levaram Álvares Cabral ao Brasil, mas com objetivos definidos e metas ambiciosas, com uma visão de futuro. Colocar a render os melhores talentos de cada um, no melhor interesse individual e coletivo. Abrir as portas à experiência, ao conhecimento, a novas realidades, absorver tudo! Procurar crescimento pessoal e acrescentar qualquer coisa a uma comunidade. Sem patriotismos bacocos, representar sempre o nosso país o melhor que sabemos e podemos, levar Portugal mais longe e mais alto. Mas no fim do dia, o mais importante de tudo é que este plano inclua o regresso.

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Trazer para casa tudo o que aprendemos, partilhar essa experiência e ajudar a transformar o nosso país. Vivemos tempos de mudança e disrupção. Há imensa coisa que não funciona no nosso país e os incentivos para voltar podem parecer poucos ou nenhuns mas é precisamente essa circunstância que deve fazer balançar consciências. Não precisamos de grandes gestos nem de novos heróis, só precisamos que cada um largue o discurso miserabilista e o queixume que ouvimos tantas vezes por aí e contribua com a sua parte para um todo, para um país melhor e com mais futuro.

Não podemos partir todos mas é importante que alguns partam à conquista e à descoberta. Mas o mais importante e mais decisivo é voltar.

Licenciado em Relações Internacionais, neste momento a trabalhar em Macau