Durante a última semana, não faltaram cenários sobre a substituição de Passos Coelho à frente do PSD. Esta discussão é aliás periódica e acontece, normalmente, quando o governo enfrenta problemas complicados, como na semana que passou com o orçamento e a Caixa Geral de Depósitos. O líder do PSD fez o que lhe competia e avisou que quem quiser chefiar o partido terá que o derrotar em eleições internas. Por fim, Rui Rio anunciou, através da imprensa, que está a ponderar se avançará para a liderança em 2018. Após o desafio de Passos Coelho, teria que marcar posição.

O ponto central foi o aviso de Passos Coelho: quem quiser o seu lugar terá que o derrotar. Este aviso é relevante, desde logo por causa da história do PSD. Nas últimas duas décadas, desde que Cavaco Silva abandonou a liderança do partido, só houve um líder do PSD que foi derrotado em eleições internas por outro militante. Aconteceu com Marques Mendes, derrotado por Luís Filipe Menezes, em 2007. Todos os outros demitiram-se da liderança: Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Santana Lopes, Luís Filipe Menezes e Ferreira Leite. Não é exagero afirmar que não existe no PSD uma forte tradição de desafiar o líder para eleições internas. O costume tem sido esperar pela sua demissão.

Claro que poderá haver, em 2018, uma repetição de 2007. Passos Coelho poderá ter o destino de Marques Mendes e Rio Rio poderá seguir o exemplo de Menezes. Mas não será fácil. Mesmo que Rui Rio tenha o talento de Menezes (o que em eleições para a liderança do PSD, ainda está por demonstrar) Passos Coelho já mostrou que é melhor do que Marques Mendes a ganhar eleições (isto é um pouco como no futebol; uns sabem vencer, outros não evitam derrotas). Para ter hipóteses realistas de derrotar Passos, Rio terá que assistir a uma derrota muita pesada do PSD nas eleições autárquicas. Uma posição incómoda para um antigo autarca do PSD.

Mesmo que o PSD tenha uma derrota aceitável nas autárquicas, e se Rui Rio resolver candidatar-se à liderança do PSD, a campanha será decisiva. Ao contrário de todos os antigos líderes do PSD na oposição, Passos Coelho ganhou as últimas eleições legislativas a que concorreu. Na hora de votar, muitos militantes do PSD pensarão, Passos já mostrou que pode derrotar António Costa. E levantarão a questão inevitável: conseguirá Rui Rio derrotar Costa? Para complicar a vida a Rio, em 2018 este virá de uma longa licença sabática da vida política. Por exemplo, quando se candidatou à liderança do PS contra Seguro, Costa era presidente da Câmara de Lisboa. Será assim difícil para Rio imitar o exemplo de Costa.

Além disso, Rui Rio (ou outro dirigente do PSD) candidatar-se-á num contexto político muito polarizado, entre a geringonça e a oposição, e em que certamente os militantes não se terão esquecido do modo como o PS chegou ao governo. Em 2018, Passos Coelho continuará a ser o rosto da oposição e da alternativa a Costa. O seu rival interno terá que resolver um dilema complicado. Se se apresentar como alternativa a Costa, não se distinguirá de Passos. E, ao contrário de António Costa por comparação com Seguro, nem sequer poderá argumentar que é uma mais valia eleitoral. Passos é o líder do PSD mais bem sucedido eleitoralmente desde Cavaco (ganhou duas eleições). Se a escolha for diferenciar-se de Passos, os militantes do PSD perceberão que a ambição de Rui Rio (ou de outro militante) será chegar a vice-PM de um bloco central liderado por Costa. Não sou militante do PSD, mas calculo que a ambição não seja ser o segundo partido nacional.

Obviamente, o que os potenciais opositores de Passos no PSD querem é a demissão do líder do partido. Vão fazer todo o tipo de pressões para que isso aconteça. Passos, contudo, avisou que não se demite. Não o fazendo, será ele a decidir o futuro do PSD. O resto, francamente, não passa de ruído mediático. Faz notícias mas é insuficiente para chegar ao poder.

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