Foi com esta fórmula que um académico norte-americano definiu a natureza das relações entre a Rússia e o Ocidente. Torna-se cada vez mais evidente que o conflito na Ucrânia começou bem antes da Ucrânia e vai muito além da Ucrânia. Veja-se a reação de Moscovo à crise do rublo. Para muitos no Ocidente, estamos a assistir a uma crise financeira e monetária. O poder russo considera a crise apenas mais um episódio no conflito geopolítico com o Ocidente. E tem razão, apesar de parte da sua análise estar errada.
Putin olha para a Rússia e o mundo em termos geopolíticos, não pensa como um economista. Para ele, a identidade nacional, a competição entre grandes potências, a soberania nacional são mais importantes do que interesses comerciais, investimentos e exportações. Foi por isso que Merkel disse a Obama, “Putin não vive no nosso mundo.” Mas ainda tem força para impor esse “estranho mundo da geopolítica a Merkel e a Obama.” Para a cientista e para o prematuro prémio Nobel da paz, o relacionamento com Putin tem sido certamente uma lição de educação política.
Os mercados e os investidores externos penalizaram a economia russa porque perceberam a natureza geopolítica do conflito entre o Ocidente e a Rússia. Por isso, deixaram de investir na moeda e na economia russas. Não voltarão a investir num futuro previsível, mesmo que os russos abandonem o leste da Ucrânia e a Crimeia. Com Putin à frente do país, a Rússia deixou de ser um país que inspire confiança aos investidores. Sem confiança, não há investimento, e sem investimento a economia deixa de crescer.
Putin acha que os mercados são instrumentos de Washington no conflito com a Rússia. Está errado. Os investidores querem ganhar dinheiro, não pretendem ajudar a política externa de Obama. O governo russo também diz que a queda do preço do petróleo resulta de uma estratégia política norte americana, coordenada com a Arábia Saudita. Não é verdade e Moscovo sabe.
Antes da Cimeira da OPEC, no final de Novembro, os sauditas reuniram-se com os russos para discutir uma possível diminuição da produção do petróleo, para evitar a descida dos preços. Os russos recusaram diminuir a sua produção. Os sauditas, que já estavam relutantes, decidiram impedir que a OPEC diminuísse a produção do petróleo. Mas a principal motivação não foi política. Os sauditas não querem perder cotas no mercado global para os seus competidores. As dificuldades que a queda do preço do petróleo causam ao Irão agradam à Arábia Saudita, mas isso não explica a política seguida pelos sauditas.
E a alegação de que os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão coordenados é um disparate ainda maior. Aliás, os Estados Unidos não produzem petróleo. Quem o faz são a Chevron, a Exxon Mobil, a BP, a Shell e outras companhias. O “mundo de Putin” – o da geopolítica – é importante mas não é suficiente para entender o mundo do século XXI. Também convém perceber como funcionam os mercados. Nas escolas onde Putin andou, não se estudava os mercados. Poderá ser fatal para o Presidente russo.