Este fim-de-semana, os anteriores e atuais líderes da União Europeia vão reunir-se em Roma para celebrar o 60º aniversário do Tratado de Roma, que estabeleceu a Comunidade Económica Europeia, precursora da União Europeia.

Nas décadas que se seguiram à sua assinatura, os países Europeus agiram com sucesso na luta contra o regresso do nacionalismo desenfreado que tinha levado a duas Guerras Mundiais e ao massacre de milhões de Europeus e encontraram uma forma de trabalhar em conjunto para criar um continente, em grande parte, pacífico, livre e próspero.

Em 2017 a nossa União Europeia encontra-se numa encruzilhada. É por isto que é tão importante usarmos estas celebrações para renovar os nossos votos e juntos lutarmos por uma sociedade aberta, tolerante e livre. A nossa União é constantemente atacada e denegrida por nacionalistas que trabalham com regimes autoritários fora da União Europeia, que a querem destruir e que pretendem, mais uma vez, pôr as nossas comunidades e as nossas sociedades umas contra as outras.

Talvez ironicamente, como vimos no referendo sobre o Brexit, é a geração pós-guerra que tanto beneficiou da integração europeia que está agora por detrás da explosão do nacionalismo eurocético. E os jovens, a maioria dos quais valorizam profundamente a sua cidadania europeia, muitas das vezes enfrentam barreiras à sua participação política. Temos um gap geracional.

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Os nacionalistas de 2017 dizem-nos que o estado nação está em melhor posição para enfrentar os nossos desafios comuns, mas este argumento carece de qualquer racionalidade e ignora as características fundamentais das ameaças com que se defrontam as nossas sociedades. As alterações climáticas, os ataques às nossas liberdades cívicas, o terrorismo internacional e as consequências negativas da globalização não podem ser abordadas por países individuais agindo por conta própria. A melhor forma de abordar estes desafios é quando estamos unidos e quando trabalhamos juntos. Se a União Europeia de hoje não existisse, teríamos de a criar.

Mas embora seja importante apreciar aquilo que alcançámos, devemos também ter uma visão para o futuro. Eu não sou um defensor idealista da União Europeia de hoje, longe disso. A União Europeia é uma entidade em permanente evolução, que está viva e que respira, mas que agora necessita de uma reforma radical.

O mercado único europeu é uma maravilha do mundo da qual nos devemos orgulhar, apesar de ainda não estar completa. Entretanto, a prosperidade que o comércio livre e que os mercados abertos têm trazido deve ser mais amplamente partilhada. Demasiadas pessoas são defrontadas com o desemprego, com salários baixos e com uma vida inteira de exclusão social, sobretudo os mais jovens. Milhões de pessoas estão a ser deixadas para trás e os líderes políticos têm sido demasiado lentos a reconhecer esta realidade.

A zona euro necessita de uma reforma profunda, para implementar um verdadeiro sistema de governação, e para impulsionar o investimento e criar emprego. A timidez com que as reformas têm sido implementadas, desde a crise de 2008, tem minado a estabilidade e o potencial da nossa moeda comum. Numa economia digital global, em rápida evolução, a Europa tem de ter a capacidade de se adaptar. Para tal, necessitamos de verdadeira liderança e de vontade política para gerar a mudança que muitas vezes tem faltado.

O aumento do apoio a partidos autoritários e eurocéticos, quer de extrema-direita como extrema-esquerda, em conjunto com a dramática queda de participação democrática, é algo que nos devia preocupar a todos. As instituições políticas devem ser simplificadas, e o nível de transparência nas instituições públicas deve ser aumentado. Por isso, permitam-me que me inspire em Churchill, um verdadeiro pioneiro da União Europeia, e adapte uma famosa afirmação. “O capitalismo é o pior sistema económico que conhecemos – para além de todos os outros.” e sendo isto verdade, o capitalismo deve ser redefinido, para que beneficie todos os membros da sociedade, e não só alguns.

É importante assinalar que a Europa deve tornar-se novamente numa comunidade de valores. A crise de refugiados na Europa e a ameaça de terrorismo testaram até ao limite as nossas tradições de tolerância e de proteção das liberdades individuais. A tentação de restringir as liberdades individuais e de nos fecharmos para o mundo é real, mas não é construindo muros que vamos resolver os desafios colocados pelos fluxos migratórios em massa, causados pela pobreza no terceiro mundo. Limitar a liberdade daria a vitória a quem nos quer causar mal.

Ao lembrarmos os ataques terroristas em Bruxelas, é mais importante do que nunca defender as nossas sociedades abertas e tolerantes. Mas isto deve caminhar de mãos dadas com controlos mais eficazes nas fronteiras externas e com a implementação de medidas ao nível da comunidade que visem dissuadir indivíduos que se sintam tentados pelo caminho de extremismo.

Agindo por vezes como controlo e equilíbrio às políticas nacionais de grupos minoritários, devemo-nos orgulhar do que a União Europeia conseguiu em todo o continente para reforçar os direitos de pessoas com deficiência, da comunidade LGBT, e para enfrentar a discriminação com base na raça e no género. Contudo, também tem de haver progresso na luta pela igualdade e pelos direitos civis.

Para derrotarmos os populistas que usam os nossos medos e que procuram dividir-nos, a Europa deve oferecer uma visão alternativa de esperança para o futuro, com base em valores, no respeito pela liberdade individual e na oportunidade para todos. Não podemos cair na armadilha de desdenhar quem discorda de nós, mas antes devemos entrar em diálogo e debater com eles, de acordo com as nossas tradições liberais democráticas.

O povo holandês rejeitou recentemente a política de ódio defendida por Geert Wilders. Espero que o povo francês escolha também um futuro europeu. Caso assim for, é possível que presenciemos os rebentos de uma primavera liberal e o renascimento de uma nova União Europeia. O nacionalismo deve ser rejeitado porque é incapaz de resolver os desafios que enfrentamos. Se vamos inverter a maré, chegou o tempo de aqueles que acreditam numa Europa unida se erguerem e serem tidos em conta.