A inovação, investigação e desenvolvimento de negócios no setor das tecnologias estão na ordem do dia. A recém-anunciada vinda de um centro de serviços da Google para Oeiras, os rumores da abertura de escritórios da Amazon no Porto, o Websummit e a febre do “empreendedorismo” são exemplos práticos da influência que o setor tecnológico pode ter numa economia.

Mas o impacto deste progresso ultrapassa as fronteiras desta indústria. A integração que temos assistido entre os mundos digital e físico irá, certamente, alterar o comportamento futuro de todos os setores de atividade. O ponto que me motiva a escrever este artigo é a disparidade entre aquilo que é a tecnologia disponível neste momento e o grau de adoção da mesma pelo tecido empresarial (e este problema é global, não me refiro apenas ao nosso país). É no mínimo alarmante que no mundo empresarial existam abordagens tão díspares no que toca à adoção do avanço tecnológico. Por um lado, existem empresas como a Amazon ou Tesla a produzir self-driving cars e lojas que eliminam a necessidade do “caixa”. Na outra ponta do espectro, existem colaboradores que executam trabalhos mecânicos, nomeadamente na área dos serviços, nos quais despendem tempo em tarefas facilmente automatizáveis, caso houvesse um investimento nesse sentido.

O impacto prático de uma maior adoção da tecnologia seria tornar o trabalho humano mais célere e, ao mesmo tempo, reduzir os erros humanos associados a essa execução. Desta forma, os trabalhadores teriam mais tempo para se concentrarem em funções que requerem conhecimentos específicos e capacidade de adaptação, entre outras capacidades únicas (por agora) ao ser humano.

A questão que coloco é: por que razão não estão os líderes a investir em soluções que aumentem a eficiência das suas operações?

Punit Renjen, líder global da Deloitte, revelou, baseando-se num estudo da consultora, que os executivos a nível global consideram o aparecimento de novas empresas e modelos de negócios aplicados à sua industria como uma das maiores ameaças às suas organizações. Ainda assim, mostram-se incapazes de acompanhar o desenvolvimento e inovação. Segundo o autor, a falta de alinhamento estratégico interno e o foco nos resultados de curto prazo justificam a não adoção e/ou aposta em tecnologias que trariam eficiência e diferenciação às suas operações diárias.

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Os líderes atuais, apesar de possuírem uma vasta experiência, desenvolveram as suas aptidões sob diferentes circunstâncias. Muitos parecem não compreender a necessidade de mudança ou apresentam uma maior inércia à mesma. Já vimos gigantes caírem por se mostrarem relutantes em acompanhar o desenvolvimento tecnológico, sendo a Kodak e Nokia exemplos disso mesmo. Mas como se deverão posicionar as empresas para tirar o máximo partido das mudanças a que assistimos nos últimos anos?

A verdade é que o posicionamento varia muito de indústria para indústria, e de empresa para empresa. Não obstante, há princípios comuns que podem ser adotados para promover este desenvolvimento. O primeiro é, naturalmente, aumentar flexibilidade dentro das grandes organizações. É crucial modificar o paradigma como as alterações nas operações das empresas são propostas, aprovadas e implementadas. O oposto acontece nas startups já que, muitas destas, têm na sua gênese a facilidade de adoção de novas soluções. E já se viu como algumas startups, dada esta facilidade, se sobrepõem a empresas que à partida, dado o elevado capital disponível, teriam vantagem competitiva no mercado.

Por outro lado, é também importante alinhar a visão dos executivos com aquilo que são as novas tendências de mercado. Corria o ano de 1999 quando Jack Welch, ex-CEO e Chairman da GE, pôs 500 dos seus executivos de topo a receber mentoria dos new comers da organização, com o principal objetivo de aprenderem a trabalhar com o que era na altura um novo mundo, a internet. Estas iniciativas ficaram conhecidas por reverse mentoring e são hoje promovidas em algumas das melhores empresas a nível global.

Claro que, por si só, o reverse mentoring não irá resolver o handicap existente entre o ponto ótimo de adoção da tecnologia e a forma como as empresas se posicionam nesse sentido. Contudo, seria um primeiro passo para fomentar o contacto dos executivos com estas tecnologias, por forma a melhor perceberem de que forma podem usá-las para capitalizar a sua experiência e potenciar o desenvolvimento dos seus negócios.

Por último, será necessário que além da visão, também se abdiquem de resultados de curto em prol de crescimento no longo – que não é assim tão longo — prazo. Para obter resultados, terão que ser feitos investimentos para tornar as organizações mais tech savvy. Nesse sentido, penso que o mercado dará uma resposta por si mesmo e, quem não investir, será rapidamente ultrapassado por empresas que resolvam os mesmos problemas a um custo mais baixo e de forma mais eficiente.

Embora que erradamente, é muitas vezes atribuída a Charles Darwin a célebre frase: “Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais inteligentes, mas sim as mais suscetíveis a mudanças”, que tem por base a teoria da Seleção Natural que o próprio introduziu no seculo XIX. Parece-me então fácil estabelecer um paralelismo com o tema do artigo: quem não pretender escrever o futuro, facilmente se tornará numa página do passado.

Consultor financeiro