Dezenas de milhares de anos de história do Homo sapiens sapiens demonstram o paradoxo fundamental da nossa existência: por um lado, o nosso profundo sentido social e a vontade de partilharmos com outros seres humanos as nossas emoções e os nossos projetos; por outro, a tendência para, em grupo, criarmos tribos com narrativas sectárias em competição e em conflito umas com as outras.

Este paradoxo é ilustrado, por exemplo, no futebol moderno, onde a magia da comemoração da vitória no campeonato pelos adeptos do Benfica na semana passada, coexiste, poucas semanas antes com a história terrível do confronto entre grupos de adeptos que resultou numa morte. É este mesmo paradoxo que faz andar a história em vagas sucessivas de períodos de harmonia e de aproximação entre as pessoas e os povos do mundo, normalmente associado ao progresso económico e humano, e períodos de conflito e falta de cooperação entre os povos, caracterizados pela instabilidade e pelo medo. É este o paradoxo que torna impossível o fim da história.

Tivemos entre 1985 e 2001 um período de harmonia e convergência, com o fim da guerra fria, o crescimento da economia mundial, a abertura da China e da Índia, a inovação tecnológica, a expansão da democracia. Foi um tempo de otimismo e de tolerância. Infelizmente, mas previsivelmente, dado o paradoxo fundamental, vivemos desde então um período de crescente conflito, com a deterioração da relação entre as grandes potências, a crise económica e social, o colapso de regimes e estados no médio oriente e a expansão do terrorismo. Vivemos hoje na insegurança e no medo, que abrem as portas à intolerância e à divergência.

Nestes tempos, cabe a cada um de nós assumir em pleno o seu papel de ser humano. Isto é, de compreender a nossa história partilhada que, espalhando-se pelo mundo a partir de África, organizados em tribos com lendas variadas, não deixa nunca de assumir uma unidade e desígnio comum. A saída do medo e da insegurança faz-se pela confiança na nossa Humanidade. Faz-se pelo diálogo. Assim tem de ser, porque a história nos ensina que, quando focamos nas nossas diferenças mais que nas nossas semelhanças, o resultado é sempre muito prejudicial a todos, e, com a tecnologia moderna, pode ser devastador.

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Na Nova School of Business and Economics, acreditamos fundamentalmente na fraternidade do espírito humano e no valor da diversidade que ele gera. Que o comércio, o convívio e a cooperação entre as pessoas e os povos do mundo alimenta o crescimento, progresso e o bem-estar. Alavancamos a globalização, embarcando na atração de alunos e professores estrangeiros e criando no nosso campus um espaço aberto e diverso, de diálogo e debate, porque sabemos que é por aqui que podemos ajudar a criar um mundo melhor. A promoção do diálogo no mundo é, aliás, uma tradição portuguesa iniciada há mais de cinco séculos, da qual nos orgulhamos e queremos promover. Somos mais portugueses, porque criamos pontes no mundo ensinando alunos de todas as partes.

Num mundo que hoje se fecha, o nosso papel é defender intransigentemente o nosso compromisso com a abertura e a diversidade. Sabemos que a única forma de fazer virar a agulha para um novo tempo mundial de tolerância, paz e abertura é a promoção do diálogo entre as pessoas e os povos, aberto a todos. Nesse sentido, o nosso plano estratégico compromete a escola a promover o diálogo global.

A partir de segunda-feira, e em parceria com a Câmara Municipal de Cascais, estamos nas Conferências do Estoril a discutir o tema das migrações. Um ponto de encontro de pensadores e atores das grandes tendências intelectuais atuais da humanidade, de onde esperamos possam surgir ideias para um mundo mais tolerante – desde logo, conhecer-nos-emos melhor e isso já faz a diferença. As migrações são uma das consequências mais nefastas dos dramas do mundo de hoje, as migrações desafiam as infraestruturas institucionais dos países de acolho e criam um ambiente de instabilidade política de consequências imprevisíveis e, sobretudo, causam situações de terrível desumanidade para aqueles que decidem enfrentar tanta dificuldade para escapar ao caos.

As Conferências do Estoril são o melhor exemplo do papel que Portugal deve desempenhar no mundo e que hoje é cada vez mais importante: a capacidade de, pelo diálogo, criar pontes entre as várias tribos da Humanidade e ultrapassar o conflito, o medo, a insegurança e a intolerância. Sem um esforço intenso de promoção desse diálogo, está em risco um novo período de trevas. Os desafios de hoje exigem mais daqueles que acreditam no valor do diálogo. São desafios que podem definir a nossa era. A Nova SBE está presente à chamada. Gostávamos que fossem muitos os portugueses a estar connosco. O mundo precisa que façamos com empenho aquilo que os portugueses fazer melhor que ninguém.
Daniel Traça é ‘dean’ da Nova School of Business and Economics