Os verões com campeonatos mundiais de futebol são sempre especiais. Querermos saber tudo sobre os principais jogadores e equipas, voltamos a conversar sobre futebol com os nossos colegas de trabalho, percebemos que todo o mundo, da Ásia ao continente Americano, da Europa a África, se interessa pelo mundial (mesmo o Financial Times tem dedicado diariamente páginas ao Brazil 2014). E até as guerras param. Numa cidade do leste ucraniano os combates pararam para se assistir ao jogo inaugural.

Para os portugueses, os últimos mundiais de futebol não têm sido nada maus. Fomos a todas as fases finais do século XXI, só uma vez não passámos a fase dos grupos e no mundial da Alemanha chegámos às meias finais. O meu filho, de quinze anos, nunca viu um mundial sem Portugal. Eu esperei até aos 21 anos para assistir a um mundial com o nosso país (e de má memória, em 1986 no México). E quando Portugal voltou a um mundial já era Pai (e foi outro com péssimas recordações, em 2002 no Japão/Coreia do Sul). Percebe-se a razão do entusiasmo juvenil da minha geração de portugueses. Em termos de mundiais de futebol as coisas a sério só começaram no início do século XXI. De resto, ouvíamos os nossos pais e avós falar de 1966 e do Eusébio. Muito mau para quem gosta de futebol.

Não há nada mais frustrante para um adepto de futebol do que ser obrigado a “escolher” outra equipa para apoiar. E isso aconteceu-nos demasiadas vezes. Na final de 1974, as minhas primeiras memórias de um mundial, torci pela Holanda na final com a Alemanha. Voltei a torcer pela Holanda em 1978, na Argentina. A famosa “laranja mecânica” de Cruyif foi uma das “minhas” primeiras equipas. Em 1982, em Espanha, como quase todos os portugueses, sofri pelo Brasil. Nunca gostei tanto de uma equipa não-portuguesa como do Brasil de 1982. E acho que não voltei a ver uma equipa fazer jogos tão espectaculares num mundial como aquele Brasil de Falcão, Sócrates, Zico (e Eder). A partir daí ficou sempre o hábito de torcer pelo Brasil (mas nunca mais com o mesmo entusiasmo e sofrimento de 1982). Isso só acontecia porque Portugal não se qualificava. Como é bom não ser “obrigado” a apoiar o Brasil.

É completamente diferente assistir a um mundial como adepto de Portugal ou apenas como apaixonado por futebol. E sinto um entusiasmo quase adolescente. Estamos a horas do começo de mais uma participação de Portugal num mundial e, afinal de contas, em quase meio século de vida, é apenas a quinta vez que vejo a nossa seleção numa fase final. A equipa de Portugal tem um passado recente que me dá confiança. Nos últimos dois mundiais, fomos às meias finais num e no outro fomos eliminados pelo vencedor (por um a zero apenas). Na última grande competição internacional voltámos às meias finais e de novo a ser eliminados pelo vencedor (através de penalties). O melhor jogador do mundo joga na nossa selecção. Num jogo, podemos ganhar a qualquer equipa. Será muito difícil vencer o mundial, mas até sermos eliminados acreditarei que é possível. Nada me daria mais prazer do que ganhar à Alemanha no primeiro jogo, e ao Brasil na final (no Maracanã). Seria a “minha” vingança por todos aqueles mundiais em que fui “obrigado” a torcer pelo Brasil porque Portugal não se tinha qualificado. Bem sei que não faz muito sentido. Mas é a verdade. O futebol é muito mais do que um jogo.

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