Em Janeiro de 2016 – há muito tempo, portanto! – o World Economic Forum publicou um estudo sobre os “trabalhos” do futuro e quais as competências e políticas de emprego necessárias para a chamada “quarta revolução industrial”. O relatório já foi citado milhares de vezes pelo que não os vou maçar com muitos dados.

O que me importa hoje comentar são as implicações e as interpretações inevitáveis que a investigação pode dar para um país com a dimensão e estrutura competitiva de Portugal.

O relatório prevê que nos próximos anos sejam extintos 5 milhões de postos de trabalho que se vão revelar irrelevantes e obsoletos, tendo em conta as rápidas transformações dos processos produtivos, da introdução de mais tecnologia e inovação e das alterações das preferências e modo de vida dos consumidores em geral.

A boa notícia é que todas estas mudanças forçarão o aparecimento de novas profissões e de novos trabalhos. Não se sabe bem se na mesma medida do desaparecimento das outras mas lá chegaremos.

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Resta, então, a enorme preocupação: como ficarão Portugal e as competências dos portugueses no meio destas mudanças?

Não se julgue que o sector privado e os empresários não estão atentos ao fenómeno. São inúmeras as iniciativas de empresas que procuram não só adaptar-se por via da tecnologia, dos processos, de novas formas de venda e equipamento mas também pela via da formação dos seus colaboradores. São mudanças necessárias e fundamentais para a sustentabilidade daeconomia e emprego.

É, assim, inevitável falar das políticas públicas. Onde podem elas colaborar no sentido de promover uma cultura de mudança (irreversível) mas que ao mesmo tempo possibilite uma passagem relativamente tranquila no que diz respeito à eliminação de alguns postos de trabalho e criação de outros sobre os quais ainda há poucas certezas?

Os empresários já se habituaram a pedir que as políticas públicas não atrapalhem as iniciativas em curso. É assim na área da internacionalização das empresas, é também assim na área da inovação e será mais uma vez assim na área da promoção de competências para o futuro mercado de trabalho. E se pedem para o Estado não atrapalhar é porque sabem do que falam.

Se não vejamos: há competências específicas que as empresas só encontram no seio de instituições que se dedicam exclusivamente à formação de trabalhadores que o mercado verdadeiramente necessita. Falo dos Centros de Formação Protocolar orientados para os diferentes sectores industriais. A maioria destes centros apresenta uma taxa de empregabilidade próxima dos 100% pela simples razão de formarem pessoas para os postos que a indústria precisa.

O caso do CENFIM – Centro de Formação para a Indústria Metalomecânica – é paradigmático: não há registo de um formando que tenha adquirido competências no centro que não tenha emprego logo à saída do seu período de formação. Falamos de trabalhadores altamente qualificados que acrescentam valor às empresas que integram.

Sendo o sector Metalúrgico e Metalomecânico Português, criador líquido de postos de trabalho, se mais profissionais fossem formados no CENFIM ainda maior seria a empregabilidade do sector.

É, por isso, essencial que sejam disponibilizados os meios necessários para que estes Centros de Formação Protocolar integrem os mais modernos equipamentos, novas metodologias de ensino e a respectiva adaptação dos conteúdos curriculares para fazer face aos desafios reais do mercado de trabalho. Em boa medida já o fazem mas poderiam fazê-lo de forma mais eficiente se houvesse outra cultura por parte de quem decide, nomeadamente o Ministério da Educação.

É que por parte dos empresários — que são quem cria emprego — há a consciência de que estes Centros de Formação, pela proximidade que mantêm com as empresas, estão especialmente vocacionados para irem ao encontro das suas necessidades específicas. Torna-se, assim, fundamental uma visão inovadora para a Formação Profissional que integre uma estratégia orientada às novas tecnologias e que por isso mesmo não pode estar subordinada às políticas de curto prazo do Ministério de Educação que não tem capacidade para interpretar os principais desígnios da indústria transformadora.

Política pública com valor seria ter coragem para implementar esta visão. É que os futuros “conselheiros de robô”, só para dar um exemplo, assim o exigem!

Gonçalo Lobo Xavier é “board advisor” da AIMMAP (Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal).