Estive na Croácia recentemente, numa conferência sobre crowdfunding, a propósito de um projeto em que participamos com o objetivo envolver os cidadãos como investidores em projetos de energias renováveis e de eficiência energética.

A conferência foi em Zagreb, organizada pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP), com oradores de algumas das plataformas de crowdfunding da Europa (ou financiamento colaborativo, como o define o recente enquadramento Português). Havia umas 150 pessoas, a grande maioria a tentar descobrir como fazer uma campanha de crowdfunding de sucesso e a pensar no próximo projeto que querem lançar ou financiar. Apresentei o Citizenergy, foi bem recebido e troquei alguns cartões-de-visita, na esperança de virmos a ajudar a concluir com sucesso a próxima escola solar em Zagreb, Split ou numa ilha no Adriático.

No dia seguinte, havia uma reunião do nosso projeto noutra cidade, a 150 quilómetros de Zagreb. Enquanto esperava pelo autocarro atrasado, e uma vez que toda a informação dos altifalantes era em Croata, decidi perguntar a dois “locais” que aguardavam para fazer o mesmo trajeto, se me podiam esclarecer. Começamos a conversar e chegou o momento da pergunta habitual: “O que estás a fazer em Zagreb?”.

Falei sobre a conferência e disse que trabalho em energias renováveis. A reação foi de espanto e admiração. Fiquei orgulhoso do que faço e isso lembrou-me que há muito tempo que não tenho uma reação destas em Portugal.

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Não sei foi a crise que nos fez olhar mais para outras coisas, as tentativas de denegrir as energias renováveis por causa dos “subsídios” ou pelo interesse (mal) escondido noutras formas de produção energética, ou a imprensa que deixou de falar delas por já não serem novidade. Passámos para um “longe da vista, longe do coração”.

As renováveis, além de contribuírem para a luta às alterações climáticas (que podem ser mais ou menos consensuais ainda que 97% dos especialistas digam que existe influência humana), melhoram a qualidade do ar, trazem independência energética ao país e às pessoas, são mais eficientes porque podem ser utilizadas no próprio local de consumo evitando perdas e custos de transporte, e têm menor impacto ambiental e paisagístico quando comparadas com a criação de grandes barragens, exploração de carvão ou importação de gás natural. Além de tudo isto ainda criam emprego.

Em Portugal temos vindo consecutivamente a ultrapassar a barreira dos 50% de energia proveniente de fontes renováveis nos últimos anos. Fabricamos equipamento de energia solar e eólica, temos excelentes centros de competências, mais uma vez, criamos emprego. E tudo isto poderia ser ainda melhor se não tivessem havido 2 anos de abismo desde que entrou o atual governo e até termos um ministro com uma visão para o setor.

Com a entrada em vigor do regime do autoconsumo, em que cada um pode produzir a sua própria eletricidade, já nem o argumento dos “subsídios” (legítimos quando se está a lançar tecnologias como estas, apesar de reconhecer que houve alguns exageros) se pode utilizar contra as renováveis.

É difícil antecipar as políticas concretas implementadas pelo próximo Governo, mas uma coisa é certa: as renováveis não deixaram de ser “sexy”, nós é que nos habituamos a ser dos melhores do mundo!

CEO da Boa Energia