Até ao início das sanções decretadas contra a Rússia pelo Ocidente devido à intervenção militar de Moscovo na Ucrânia, a cadeia de restaurantes McDonald’s era um exemplo de higiene, organização do trabalho e por aí adiante A empresa crescia a bom ritmo, possuindo 435 restaurantes e mantendo cerca de 3000 postos de trabalho nas mais diferentes regiões da Rússia.

Porém, agora que o Kremlin necessita de responder ao Ocidente, as autoridades sanitárias russas, a Rospotrebnadzor, mandaram encerrar três dos mais conhecidos restaurantes dessa cadeia no centro de Moscovo e realizaram inspeções em dezenas de outros por todo o país.

“Durante a inspeção foram descobertas numerosas violações das exigências da legislação sanitária”, lê-se num comunicado publicado pela Rospotrebnadzor, um dos organismos estatais russos mais corruptos e “politizados”. No campo alimentar, nada entra ou se vende na Rússia se os funcionários desse organismo não receberem “a sua parte”. No campo político, ele entrou em acção quando foi preciso proibir a entrada de águas minerais da Geórgia, ou os vinhos da Moldávia. Ou seja, a Rospotrebnadzor funciona como uma espécie de cacete político contra os países que ousem dizer “não” ao Kremlin. Como não podia deixar de ser, os produtos agrícolas ucranianos têm sido das principais vítimas da “defesa da saúde do consumidor russo”.

Quem irá ganhar com o encerramento dos restaurantes da famosa cadeia? Para já, as numerosas barracas de rua que vendem frangos assados, shaurmas ou sandes em condições de higiene muito pouco adequadas, mas que a Rospotrebnadzor teima em não ver.

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Em 1990, tive oportunidade de ver a abertura do primeiro restaurante dessa cadeia em Moscovo. Não consegui entrar, porque a fila de clientes dava a volta à enorme Praça Pushkin. Nesse dia, foram servidas 31 mil refeições e esse acontecimento foi visto por muitos como um sinal da abertura da então URSS ao mundo. O McDonald’s tornou-se um símbolo de como podia ser normalmente servido o consumidor, uma alternativa aos refeitórios públicos soviéticos que não primavam pela higiene ou pelo bom ambiente.

Certamente que serão muitos os que irão ficar radiantes com mais esta medida contra o “imperialismo norte-americano”, mas ela tem um alcance bem maior, não só puramente alimentar, mas também político. A política de sanções é para continuar e Vladimir Putin não pretende fazer figura de fraco, mesmo que para isso tenham de ser os cidadãos russos a pagar a factura.

P.S. As autoridades russas já se deram conta que foram longe demais nas sanções contra os produtos alimentares europeus e norte-americanos e decidiram fazer marcha atrás, visto que há produtos proibidos que a Rússia não produz e são essenciais. Entre eles estão o leite e produtos lácteos sem lactose, sementes de batata e de grão.