A Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos apelou ao Presidente Obama para que forneça armamentos letais à Ucrânia de forma a que se possa defender da agressão russa, decisão que certamente irá elevar o conflito no Leste do país a um novo patamar de confronto.

Esta decisão será recebida por Moscovo como uma declaração de guerra indirecta e poderá levar o Kremlin a fazer abertamente aquilo que até agora jura não fazer: prestação de apoio militar e humano aos separatistas pró-russos no país vizinho. Escusado será dizer que a qualidade e a quantidade de armamentos russos irão crescer, o que também poderá contribuir para o alargamento do conflito armado.

O envio de armas pelos Estados Unidos para a Ucrânia também não será do agrado de alguns dos países membros da União Europeia, pois o conflito não tem lugar algures no Médio Oriente ou no Norte de África, mas bem no centro da Europa.

Sem dúvida que, actualmente, no que respeita a armamentos, os separatistas pró-russos estão muito melhor equipados do que as forças armadas ucranianas. Só pessoas mal-intencionadas ou vítimas da mais desenfreada propaganda do Kremlin podem acreditar que os separatistas combatem apenas com as armas que conquistaram aos soldados ucranianos e que a presença de militares profissionais russos no terreno seja mais uma “calúnia da CIA”.

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Porém coloca-se uma questão: se os armamentos a fornecer por Washington não forem peças retiradas do museu da guerra fria, haverá nas forças armadas ucranianas militares capazes de combater com eles? Não se pode esquecer que, até há bem pouco tempo, os dirigentes ucranianos, desde Leonid Kutchma até Victor Ianukovitch, se preocupavam mais com o enriquecimento das suas famílias do que com a preparação dos seus soldados. Além disso, volto a recordar que Moscovo não deixará de enviar homens bem preparados para responder ao “desafio americano”.

No caso do envio de armamentos letais para a Ucrânia, é preciso deixar de ter esperanças na sobrevivência desse país como um Estado uno. Provavelmente os combates irão continuar até que ambas as partes cheguem a um acordo sobre o paralelo ou o meridiano para dividirem a Ucrânia, pois não quero acreditar que o agravamento dos confrontos leve alguma das partes a utilizar o “último argumento”: as armas nucleares.

Antes de enviar armamentos letais para a Ucrânia talvez fosse mais útil que os Estados Unidos e a UE ajudassem os ucranianos a porem ordem na própria casa. Por exemplo, não permitir o reacendimento de guerras entre oligarcas.

Na semana passada, Igor Kolomoysky, oligarca e governador da região ucraniana de Dnipropetrovsk, tomou de assalto os escritórios da empresa pública Ukrenafta, o maior produtor e transformador de gás e petróleo no país, para evitar a decisão de demitir Alexandre Lozorko, homem de sua confiança, do cargo de director-executivo e a substituição desse por Iúri Mirochnik, nomeado pelo Ministério da Energia. Além disso, depois de abandonar o edifício, insultou e ameaçou um dos jornalistas presentes. Os deputados da Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia exigiram que o Presidente Poroshenko o demitisse do cargo de governador, mas este não foi além de uma “repreensão por escrito”.

Além disso, Kolomoysky foi repreendido não por ter tentado tomar à mão armada uma das mais importantes empresas públicas, mas por ter insultado o jornalista.

Esta guerra, a aumentar de intensidade, poderá ser tão ou mais perigosa do que o conflito no Leste da Ucrânia para o futuro deste país, pois poderá desestabilizar completamente as estruturas do poder.