A tenista russa Maria Sharapova não é a única atleta de alta competição a dopar-se no seu país. Este problema adquiriu dimensões tais na Rússia que esta corre o risco de não se ver representada nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Nos últimos anos o desporto russo, principalmente o atletismo, tem sido abalado por numerosos escândalos ligados à utilização de doping por parte de conhecidos desportistas, alguns deles de primeiro plano.

Tudo começou em Dezembro de 2014, quando o canal televisivo alemão ARD mostrou o primeiro documentário de uma série de três: Doping Top Secret: Russia’s Red Herrings, onde se acusa as autoridades desportivas russas de permitirem o emprego de doping a fim de conseguirem bons resultados. Esta investigação foi possível com base em revelações da atleta Iúlia Stepanova e do seu marido Vitali Stepanov, antigo funcionário da RUSADA (Organização Anti-doping Nacional Independente da Rússia).

Segundo eles, os atletas russos recorrem sistematicamente a substâncias proibidas por ordem dos seus treinadores. Depois da primeira série, Valentin Balakhnitchev, que dirigia a Federação de Atletismo da Rússia desde 1991, foi obrigado a pedir a demissão desse cargo.

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Investigações posteriores levaram a Federação Mundial de Atletismo (IAAF) a suspender a Federação de Atletismo da Rússia das suas fileiras e foi levantada a possibilidade de proibir os atletas russos de participarem nos Jogos Olímpicos de 2016.

As autoridades competentes russas juram fazer feito tudo para pôr fim ao emprego do doping e tornar transparente as suas actividades nesse campo. Até o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, se teve de pronunciar sobre o tema. Em Novembro de 2015, declarou “as questões do combate ao doping no desporto continuam a ser actuais e exigem constante atenção… É preciso realizar a nossa própria investigação, interna, e garantir a cooperação mais transparente e profissional com as estruturas antidoping internacionais”.

Porém, no terceiro episódio do documentário, exibido a 7 de Março, os autores, baseando-se em gravações, acusam Anna Antzelovitch, nova directora geral da RUSADA de combinar com os desportistas o dia e a hora em que os especialistas irão recolher análises, o que vai contra todas as normas internacionais.

Além disso, alguns dos treinadores russos que foram proibidos de exercer a sua profissão por entidades desportivas internacionais, por incentivarem os atletas a consumirem substâncias proibidas, continuam calmamente a treinar no seu país.

Entretanto, foram acontecendo coisas estranhas. No passado 14 de Fevereiro, Nikita Kamaev, antigo director da RUSADA, que tencionava publicar um livro sobre o doping no desporto russo, faleceu subitamente aos 52 anos com um ataque cardíaco. Poucos dias antes, falecia também Viatcheslav Sinov, presidente do Conselho Executivo da RUSADA e seu antigo director-geral.

Nos últimos três anos, numerosos atletas russos, alguns dos quais campeões olímpicos, foram sancionados por terem recorrido ao doping.

No dia em que Maria Sharapova anunciou ter recorrido à substância proibida meldonium, a imprensa russa anuncia que a patinadora no gelo Elena Bobrova, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, foi afastada das competições pela mesma razão, bem como Semion Elistarov, campeão olímpico e europeu de “short track speed skating”.

O ministro do Desporto da Rússia, Vitali Mutko, iliba o Estado e atira as responsabilidades para cima das autoridades desportivas, mas as dimensões que o escândalo está a tomar apontam noutro sentido. Com a chegada de Vladimir Putin ao Kremlin, ele não só se tem preocupado com o reforço do prestígio militar do país, mas utiliza o desporto para mostrar o poderio da Rússia. Não foi por acaso que ele muito se esforçou por realizar os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi e o Campeonato do Mundo do Futebol de 2018 no seu país.

Não vos faz lembrar a política dos dirigentes comunistas da República Democrática Alemã neste campo? Para onde foram esses especialistas em enganar as comissões de controlo antidopagem?