A discussão à volta do Uber carece de sentido. Só quem é taxista, amigo de taxista ou familiar de taxista ou nunca comparou os dois serviços pode ter qualquer dúvida sobre qual o melhor dos dois modelos.

O preço é só o primeiro dos factores de diferenciação. E nem sempre é assim. Se, nas horas normais, o Uber é mais barato que o táxi, nas horas de maior procura o preço do primeiro supera a tarifa do segundo. E isso não impede as pessoas de escolherem Uber.

A grande diferença está na qualidade do serviço. E neste ponto, comprar o táxi com o Uber é como comparar a qualidade urbana de Marrakech com Copenhaga.

Se o táxi é porco, cheira mal, e é conduzido, em geral, por um taxista desagradável, antipático, incapaz de acatar instruções, permanentemente revoltado com o mundo e com o país (e quantas vezes também com a distância do próprio serviço!) o Uber é limpo, cheira bem e é conduzido por uma pessoa agradável, inteiramente atenta ao conforto do cliente. Ansiosa por que a viagem seja o mais agradável possível.

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Qual o porquê de tão bom serviço? Para quem ainda não sabe, é extremamente simples: porque no fim de cada viagem o cliente dá uma nota de um a cinco valores ao condutor. Premiando ou castigando a qualidade do serviço: a viagem, o preço, a limpeza, a discrição, a educação, etc.

Assim, um motorista Uber com má pontuação não pode esperar continuar a operar muito tempo. Porque os clientes, ao chamarem um Uber, têm acesso à pontuação média do motorista. E se for má, pura e simplesmente não o escolhem. Esperam por outro. E para aquele indivíduo, acabou-se a carreira na Uber.

Já os taxistas podem passar – como passaram – décadas a operar sem que sofram minimamente as consequências da sua conduta.

Da parte do público, durante anos, a única forma de retaliação possível contra a proverbial má-educação dos taxistas nasceu nas ruas, por parte dos outros condutores. Todos sabemos que ninguém tem paciência para um taxista na estrada. E isso, em vez de ter o efeito pretendido, acabou por gerar um ciclo vicioso em que os taxistas, sentindo-se detestados por parte da população automobilística, acabam por se comportar invariavelmente de acordo com o modelo que gerou esse mesma reacção, potenciando-a.

Finalmente, apareceu uma alternativa – o Uber – e milhares de pessoas, ao experimentarem-na, viram o que têm andado a perder. Ao nível tão baixo de serviço a que se têm vindo a sujeitar, sem possibilidade de escolha. Suponho que deve ser uma sensação semelhante à do habitante de um país do Bloco de Leste na sua primeira visita ao Ocidente. Para mim, foi.

A reacção dos taxistas foi a que seria de esperar: agressão, violência, raiva, corporativismo e um total desprezo pelo interesse dos clientes que supostamente deveriam servir.

Espero que, por uma vez, os nossos governantes – dos quais muitos já puderam experimentar e comparar estes dois serviços – não caiam na mesma esparrela de sempre, sacrificando o interesse de todos às rendas garantidas de uns poucos.

Advogado