É verdade que tendemos a votar naqueles que conhecemos melhor, os que aparecem mais. O facto, por exemplo, de alguém ser Presidente da Câmara induz-nos a vê-lo com outros olhos, afinal ao longo dos últimos anos foi nosso representante e acabou por, bem ou mal, travar batalhas pela nossa cidade.

Mas, se pensarmos bem, o voto deve ser um acto de inteligência e não fruto da intuição ou das impressões que vamos colhendo na imprensa ou nas conversas de café.
Julgo que um bom critério de escolha é perceber se a nossa vida na cidade melhorou ao fim de 4 anos.

Outro é perceber se o actual presidente fez um bom mandato – em termos de resultados e de cumprimento das promessas feitas. Se fez o que disse que ia fazer e se consegue apresentar serviço que se veja.

O ultimo e talvez mais decisivo é saber qual o candidato que tem o melhor plano para o futuro da cidade (sim, nós vivemos do futuro) e qual o que possui mais competências para levar a cabo esse projeto, a que deverá aliar disponibilidade e capacidade de trabalho.

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É da ponderação das respostas às três perguntas que deverá sair a nossa decisão.

Uma nota prévia, sendo eu um votante habitual nos candidatos do PSD — porque é um partido com gente competente e séria, onde me revejo e onde tenho amigos — desta vez tenho que reconhecer que a disputa eleitoral está reduzida a dois candidatos com reais hipóteses de ganhar. Moreira e Manuel Pizarro.

O PSD, por opção de quem escolheu (e sei que não foram os órgãos concelhios) excluiu-se da corrida à vitória à Câmara Municipal. Encontrou bons candidatos para a assembleia municipal e juntas de freguesia e será apenas premiado por isso.

Tentarei então responder de forma sistemática às perguntas atrás enunciadas.

1) Qualidade vida dos portuenses.

Atrevo-me por dizer que ao fim de 4 anos, a vida não melhorou significativamente para os portuenses.
Não existe uma obra ou projeto emblemático, a não ser a construção e aprovação de mais hotéis, apartamentos e supermercados (alguns em zonas nobres e com pouca vocação para albergarem superfícies comerciais).

O trânsito está pior, sem alternativa à vista. O estacionamento não melhorou. A limpeza da cidade piorou.

Acresce que a TAP descontinuou alguns dos voos internacionais diretos, impactando a actividade profissional daqueles que têm que vender fora de portas o que produzem aqui. É verdade que as diferentes forças políticas protestaram, o actual presidente até escreveu um livro sobre o assunto, mas o resultado foi negativo. O que me chocou mais foi que, depois do barulho, um silêncio ensurdecedor. Como dizemos no Porto, muita parra e pouca uva. Salva-nos a Ryanair cuja aposta no Porto vem de trás e nada tem a ver com a ação dos políticos. Tal como a vitalidade da baixa da cidade, é a economia a funcionar.

Curiosamente, as áreas de intervenção da câmara com maior sucesso foram a cultura e habitação social, muito pela ação e trabalho diário de Paulo Cunha e Silva e Manuel Pizarro.

O programa cultural da cidade é um exemplo, assim como o trabalho na área da habitação, com boas políticas de integração dos excluídos e recuperação de edifícios. Julgo que aqui o segredo foi fazer poucas coisas, mas bem.

2) A qualidade do mandato.

Na maior parte das eleições há um enviesamento, porque há candidatos que são presidentes de câmara e que por isso dispuseram de 4 anos para mostrar serviço. Em particular, quando alguém se candidata a um segundo mandato, as estatísticas dizem que o recandidato deve ganhar.

Então porquê a dúvida na cidade do Porto?

Se pararmos para pensar, é porque o mandato foi fraco. O grau de cumprimento das promessas medíocre. Não há uma obra ou um projeto mobilizador que se possa apreciar.

Porto capital do empreendedorismo, Start up Porto, Fashion district no Porto? Porto capital do desporto nacional?

Não se tratou de total incompetência, não penso isso. Talvez antes uma desadequação entre o número de horas que o cargo exige e aquilo que o Presidente estava disposto a dar. Julgo que alguma impreparação pode explicar o número de concursos que acabaram por ser anulados. Mas, no final do dia, a sensação que fica é que andou tudo devagar.

E depois há aquele incómodo de ver um presidente de câmara envolvido em negócios imobiliários controversos, que exigem intervenção da autarquia e do próprio. Não teria sido ajuizado fazer uma declaração de interesses na última campanha? Se soubéssemos que era dono da Selminho ou pretendia construir um hotel na Avenida Montevideu ao abrigo de uma excepção, teriam os portuenses votado nele? E como se permite alguém tomar conta de um terreno que é do município invocando usucapião que é o expediente legal dos chico-espertos?

Aqui não há volta a dar. Moreira vacilou e da suspeita ninguém o livra. Acresce a pulverização de amigos em cargos de nomeação. Leva-nos a pensar que independentes e partidos sofrem do mesmo vicio.

3) O melhor plano para cidade.

Não devemos confundir a forma com a substância. Há pessoas mais simpáticas que outras. Por exemplo, Manuel Pizarro é mais terra a terra e Moreira é mais sobranceiro, mas não deve ser esse o critério de escolha. O perfil mais humanista e genuíno de Manuel Pizarro terá a ver com o facto de ser médico, enquanto Moreira é político profissional e tem um distanciamento maior das pessoas. Mas o que conta mesmo são as ideias e a capacidade para as executar.

Hoje é consensual que o maior problema que o Porto precisa de resolver é a crescente perda de população, em particular na zona oriental e centro histórico.

Tendo verificado os números, vi com surpresa que ao fim de 4 anos o Porto tem menos pessoas a residir na cidade. Somos um grande destino turístico mas os portuenses fogem da cidade.

Ora a perda de população é um dos sinais mais negativos para uma cidade e para a sua identidade. Foi com pena que assisti a este declínio. Curioso que quem veja a televisão e outros media, a ideia que transparece é que o Porto é uma cidade pujante onde todos querem estar. Errado. Os números não mentem.

O Porto precisa ainda de definir as zonas de crescimento, a zona oriental, Campanhã, as perpendiculares a Fernão de Magalhães, e também como atrair investimento sofisticado. Precisa de fazer de uma vez por todas as passagens pedonais ligando Gaia, unindo as cidades e dando espaço ao Porto, permitindo-lhe respirar e aproximar-se do rio.

Outra questão prende-se com os jovens talentos da cidade do Porto que vivem e trabalham no estrangeiro, como os cativar? Ou só interessa trazer estrangeiros?

Ora, ouvindo os candidatos, aquele que tem as melhores ideias para tornar a cidade atrativa e em conta para que se possa comprar habitação no Porto (e não estou a falar de mais bairros sociais), aquele que tem um plano de como integrar jovens que residem na periferia do Porto mas aspiram a viver na cidade, é Manuel Pizarro.

É o único com uma palavra para as indústrias criativas, para a moda, e o único com uma visão transparente sobre a zona oriental que é para onde se vai expandir a cidade. No fundo, é o único que tem uma ideia sobre como devolver a cidade aos portuenses.

Quanto à capacidade para executar, aqui não me restam dúvidas. Ao longo destes 4 anos testemunhei a dedicação de Manuel Pizarro, o número de horas que trabalhava, a modéstia com que se apagava para deixar brilhar associações, sociedade civil e portuenses anónimos.

Eu acredito que o trabalho de presidente de câmara é difícil e exige uma carga horária de trabalho brutal.

O sucesso na vida profissional, ao contrário do que muitos pensarão, resulta mais do labor diário e da dedicação do que de momentos de inspiração. Neste particular, Pizarro ganha folgado porque trabalha muito mais. E porque Moreira desiludiu na capacidade para executar e na disponibilidade para trabalho. O Presidente tem que passar mais tempo no município.

Estas eleições são mais importantes do que podemos imaginar. Vivemos num mundo cada vez mais competitivo, onde temos que ser rápidos e eficientes. Afinal outras cidades pretendem cativar as mesmas empresas, os mesmos eventos, os mesmos jovens talentos, os mesmos turistas.

Precisamos de um plano para o futuro, que integre os que vêm de fora, mas respeite quem cá vive e quer cá viver. E precisamos de um presidente a tempo inteiro, que trabalhe com eficiência e descrição. O melhor é Manuel Pizarro.

Empresário, ex-presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários