Mário Soares resolveu escrever a sua “resposta ao povo”. Convém ler o texto, convém seguir o episódio. Se a coisa prometia ser feia, agora só vão sobrar os escombros.

É claro que os escombros começam na liderança – Seguro sai dali feito em nada. Mas desenganem-se os que pensam que este artigo sairá barato a Costa. Na resposta ao povo, Soares estende-lhe a passadeira e passa-lhe o testamento.

Quer que ele dê a Portugal “uma alternativa de esquerda, coerente e credível”, daquelas que ele juntou na Aula Magna por duas vezes (aquela que Costa nunca quis juntar na Câmara de Lisboa, porque sabia que não era possível).

Exige-lhe “uma política corajosa que faça a rutura com a direita e as políticas de direita”.

Entrega-lhe “um partido de esquerda”, “de punho erguido à esquerda e dos socialistas que não têm medo de ser tratados por camaradas”.

Ou talvez não. Talvez Soares só queira mandar Seguro fora. Seguro, o da “fulanização”, diz Soares. O que “procura sempre evitar a expressão secretário-geral”, o que tem “um estilo nada identificado com o povo”. O tal do “partido de Seguro”, aquele “com quem o povo não pode contar”. No fundo, aquele que ousou não ir à Aula Magna.
Nesta resposta ao povo, Soares assina como fundador do PS. E trata Seguro como alguém que se apropriou do seu PS sem a sua autorização – e portanto sem legitimidade.
Para Seguro é uma valente lição: a unidade que selou há um ano com Costa (e que correu a campanha até ao dia do fim), acabou neste exemplo puro de camaradagem.
Para Costa é um belo aviso: se ganhar, terá que escolher um de dois: o Partido Soares ou o Partido dele próprio.

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