Quem ainda tem dúvidas sobre o potencial inovador de Portugal pode pôr os olhos no trabalho extraordinário que uma mulher portuguesa está a fazer na cidade do Porto. Há uns dias tive o privilégio de galardoar Susana Sargento com o maior prémio mundial destinado a celebrar as mulheres inovadoras: o Women’s Innovator Prize 2016, que é atribuído anualmente pela Comissão Europeia.

O prémio distingue mulheres inovadoras porque todos sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer para que mais mulheres ocupem lugares de liderança. Mesmo nos principais focos de inovação do mundo, sítios como Silicon Valley, Boston, Londres ou Berlim, constata-se um grande desequilíbrio de género na criação e liderança das empresas mais inovadoras. Prémios como este são importantes para mudar as mentalidades e para estimular a próxima geração de mulheres líderes.

A Professora Susana Sargento, cofundadora da Veniam, é uma dessas líderes. O seu trabalho alia investigação, tecnologia e aplicações práticas e comerciais, exatamente o que a Europa precisa para atingir um patamar mais elevado de produtividade, crescimento e criação de emprego. O trabalho da Susana Sargento está a criar as condições para uma espécie de “internet em movimento” em que os veículos urbanos nos permitem estar sempre conectados à internet e ao mesmo tempo servir de sensores, que em tempo real nos ajudam a compreender e a melhorar a vida nas cidades.

Este meu primeiro ano e meio como Comissário Europeu tem-me permitido testemunhar o extraordinário potencial inovador que existe na Europa. Projetos como os da Susana não se vêm todos os dias. Mas não são únicos. Olhar para esses projetos é ver uma combinação harmoniosa de interdisciplinaridade, colaboração, criatividade e determinação.

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Hoje em dia é impossível progredir de forma isolada, num só País, numa só instituição, numa só disciplina ou por apenas uma só pessoa. A teoria que especulava sobre a existência das ondas gravitacionais tinha um só autor, Einstein; o artigo científico que anunciou a confirmação empírica dessa teoria tinha mais de 1.000 autores internacionais e resultou da colaboração de múltiplas disciplinas, instituições e fontes de financiamento (incluindo da União Europeia). Por sua vez, a colaboração e a interdisciplinaridade, ao retirarem-nos da nossa zona de conforto, requerem determinação e muita criatividade: para dar o salto da invenção para a inovação, para passar fronteiras geográficas e entre disciplinas, para passar do conhecimento para o produto.

A inovação reside cada vez mais nas intersecções entre as diferentes disciplinas e os diferentes sectores – aqueles que inovam fazem-no porque não têm medo de atravessar as fronteiras e barreiras do saber. Vejo em Portugal uma nova geração que combina de uma forma única estas características. O trabalho da Susana Sargento ilustra este novo paradigma da inovação, aliando de forma perfeita o mundo físico dos transportes ao mundo digital, em prol de soluções com interesse económico mas também com interesse público. Nesta nova geração de mulheres europeias, de mulheres portuguesas – que a Susana Sargento tão bem representa – temos o futuro de Portugal, temos o futuro da Europa.

Comissário Europeu