Mais do que um acessório de moda, o leque foi durante séculos símbolo de poder, luxo e sedução. Criado com um objetivo funcional, a partir do século XVII estabeleceu-se como um instrumento de adorno e de representação do feminino. Mas foi ao longo dos séculos seguintes que se assumiu como uma verdadeira “arma de sedução” e recebeu uma linguagem própria, que permitia às mulheres comunicar e relacionar-se com os homens.

Cada leque contava a história de uma única mulher. Muitas vezes feitos de encomenda, os leques eram objetos pessoais, que acompanhavam as várias etapas da vida. Havia leques para diferentes ocasiões, como os de casamento ou os de viuvez, e por vezes eram oferecidos para marcar momentos importantes. Mas eram também um reflexo da sociedade em que eram criados, espelhando as suas preferências culturais e artísticas.

Foi procurando traçar a evolução e a história do leque europeu, desde o século XVIII até ao século XX, que a Casa-Museu Medeiros e Almeida criou a sua nova exposição, “Armas de Sedução”. Para tal, foi construída a nova Sala dos Leques, na zona do antigo closet da casa, onde foram expostos 72 leques, pequena parte de uma coleção composta por 210 exemplares. Estes foram colecionados por António Medeiros e Almeida, fundador da casa-museu, durante as últimas décadas da sua vida. O conjunto constitui a segunda maior coleção do país, apenas ultrapassada pela coleção do Museu do Oriente, com mais de 300 exemplares, e a é a segunda maior em Portugal acessível ao público

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Marfim, lantejoulas, bordados e plumas — cada leque é uma pequena obra de arte. Alguns são pintados, reproduzindo cenas de temática mitológica, muito na moda durante o século XVIII, outros, datados do mesmo período, são feitos de corno ou marfim trabalhado. O trabalho é tão minucioso que quando vistos de longe parecem feitos de renda. O mais bonito da coleção é provavelmente o leque “borboleta”, datado já do início do século XX. O leque, ao estilo da Arte Nova, é composto por tecido pintado e bordado com lantejoulas.

O mais importante da coleção pertenceu à imperatriz D. Eugénia do Montijo, mulher do imperador Napoleão III. O leque, de autor, está assinado por Hédouin, um célebre pintor e gravador francês, que reproduziu uma cena de corte num jardim palaciano. Outro exemplar importante pertenceu à última rainha portuguesa — D. Amélia.

O mais enigmático de todos é o leque quebrado ou de truque mágico. Este, quando aberto da esquerda para a direita, parece um leque normal, mas quando é aberto ao contrário desintegra-se na mão de quem o abriu. Não se sabe como surgiu este tipo de leque, mas pensa-se que tenha sido criado para ser usado por ilusionistas. Mais tarde, acabou por se tornar moda entre as senhoras. De resto, pouco se sabe sobre ele — não se sabe a quem pertenceu, nem em que data foi construído.

A exposição “Armas de Sedução” é inaugurada esta quinta-feira, dia 27 de novembro, e estará aberta ao público a partir de sexta-feira.

 

A linguagem do leque

Conta-se que a “linguagem do leque” foi inventada por um famoso fabricante de leques francês, que queria rapidamente aumentar as vendas. Esta seria distribuída sob a forma de uma pequeno libreto, que acompanhava os leques que as senhoras compravam.

Ao longo dos anos, foram sendo produzidas diferentes versões deste código. Mas o objetivo era sempre o mesmo — comunicar com os homens e transmitir mensagens amorosas.

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