Jovens mulheres que se exibem em demasia, obcecadas com uma aparência mais sensual. Que optam por determinados comportamentos que, porventura, não ajudam a alcançar as relações desejadas com o sexo oposto. É a atriz Jacqueline Bisset, que completou 70 anos de vida este mês, quem o diz numa entrevista ao The Daily Telegraph. E aponta como razão principal para a atitude coletiva, que hoje diz ser mais evidente, o desespero das mulheres.

“É brutal lá fora. Hoje em dia, as raparigas são tão atraentes e sexys, e mostram-se de uma forma tão óbvia, que os homens sentem-se numa loja de doces. (…) Sinto que esta obsessão em ser-se ‘hot’ é mais dominante do que alguma vez foi na minha juventude. Já não é [a ideia de] ‘Eu quero ser encantadora, mágica, romântica e bonita’. É ‘ Eu quero ser sexy”. Noutras palavras: ‘Eu quero que os homens me queiram…’.

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Os resultados desta forma de estar na vida, diz a atriz natural de Surrey, Inglaterra, não são os melhores, até porque as mulheres acabam por se sentir usadas pelos elementos do sexo masculino. Bisset explica ainda que, em tempos, identificou-se com a geração em causa e, por não conseguir lidar com o que lhe sucedia, optou por uma versão mais discreta de si própria.

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Como consequência, seguiram-se melhores relacionamentos amorosos — apesar de nunca ter casado, teve quatro companheiros de longa data e é mãe de dois filhos. Mas esta é também a mulher que, ainda em adolescente, se viu “obrigada” a ser modelo para sustentar a família (a mãe francesa, diagnosticada com esclerose múltipla, foi abandonada pelo pai inglês). Apesar disto, sempre foi insegura quanto à aparência, mesmo sendo, em tempos, um sex symbol.

“Nunca me senti bonita. Não foi essa a forma como fui educada. O meu pai sempre disse: ‘O teu aspeto não tem nada que ver contigo. É apenas genética, pelo que é melhor começares a concentrar-te em desenvolver a tua pessoa, para que quando a tua aparência desaparecer, e ela vai desaparecer, fiques bem'”.

As palavras da atriz sobre o contexto atual definido pelos sexos podem gerar alguma polémica. Mas a temática não é nova para Bisset, até porque, não faz muito tempo, argumentou que as mulheres mais velhas continuam a querer ter sexo, apesar de os homens não serem recíprocos no desejo. No fim de junho, o Observador citava a atriz que, numa entrevista ao Guardian, comentou: “As mulheres mais velhas continuam a querer ter sexo, mas os homens não querem dormir com elas”.

E porque os anos deixam marcas, a beleza aos 70 também foi tema de conversa no artigo do Telegraph: “Não posso dizer que tem sido terrivelmente divertido ver tudo mudar. Ainda assim, não agonizo sobre isso. Não podemos lutar contra a gravidade e eu não quero fazer todo o tipo de operações”. E porque a vida é curta — a entrevistada equipara-a a uma chávena de café –, prefere ler os artigos que lhe interessam em vez de passar três horas à frente do espelho.

Trata-se de uma clara analogia à pouca importância do aspeto físico, depois de tantos anos a ser cobiçada pela imagem feminina. Apesar de, nas décadas de 1960 e 1970, ter contracenado ao lado de atores como Steve McQueenFrank SinatraChristopher Plummer e Marcello Mastroianni, foram as cenas subaquáticas protagonizadas no filme O Abismo, de Peter Yates (1977), que levaram o nome Bisset à ribalta. E que, segundo o Telegraph, ofuscaram o talento da já vencedora de um globo de ouro por melhor atriz em miniséries (pela participação em Dancing on the Edge).

Até à data, contam-se cerca de 50 anos de presença no grande ecrã — a mais recente participação enquanto atriz remete para o filme Bem-vindo a Nova Iorque, de Abel Ferrara, onde dá vida à esposa de um executivo viciado em sexo, interpretado por Gérard Depardieu. A história tem um fundo de verdade e inspira-se no mediático caso de Dominique Strauss-Kahn.