Carlos Carvalhas, antigo secretário-geral do PCP e membro do comité central do partido, rejeita a ideia de que o PCP enfrente qualquer contradição por apoiar um Governo socialista que continua preso aos “constrangimentos” e “limitações” impostas pelas regras europeias, como vão denunciando os comunistas. “Somos um partido realista” que viu nesta solução a oportunidade de mudar o país ainda que dentro de um “quadro muito limitado”, assumiu Carvalhas.

Em entrevista ao Observador, no XX Congresso do Partido, o antigo líder comunista explicou que “havendo uma oportunidade de se travar uma grande ofensiva contra os direitos e conquistas dos trabalhadores” o PCP não poderia ter faltado à chamada.

Não há nenhuma contradição, nem hipocrisia em estarmos a viabilizar um Governo e a apoiar simultaneamente aquilo que consideramos justas lutas dos trabalhadores”, defendeu Carlos Carvalhas.

No futuro, assumiu o ex-secretário-geral comunista, o PCP continuará a “pugnar por mais avanços dentro de um quadro muito limitado”, sabendo que o país deve travar uma batalha na União Europeia para se libertar do “garrote” da dívida pública e de um “Tratado Orçamental que nos limita severamente”. Se não o fizermos, continuou Carlos Carvalhas, as “perspetivas de avanço no plano de investimento, no plano económico, no plano do desenvolvimento e no plano social ficam muito limitadas”.

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Haverá condições para fazer essa “rutura”? Primeiro, será preciso perceber que Europa restará depois do referendo italiano e das eleições austríacas, alemãs e francesas. “Ninguém pode garantir que de hoje a um ano estejamos na mesma situação perante o euro, perante o Tratado Orçamental e perante a própria União Europeia”, admitiu.

Para já, e enquanto subsiste este quadro, admite Carlos Carvalhas, a “única maneira de romper” será dentro do sistema, esperando que os socialistas cedam como têm cedido em alguns aspetos. Será que o PS cede às reivindicações do PCP e bate o pé aos constrangimentos europeus? “Faremos tudo para isso”, disse o antigo líder comunista, sem depositar grandes esperanças na vontade dos socialistas.

Carlos Carvalhas esteve 12 anos à frente do PCP, sucedendo ao histórico líder Álvaro Cunhal. Nunca, em mais de uma década enquanto secretário-geral comunista, conseguiu desenhar uma solução política desta natureza. Ter falhado um compromisso dessa natureza não deixa uma amargura? O antigo líder comunista garante que “não”. E explica porquê: “No passado não foi possível porque a correlação do forças não permitiu”.

Depois das legislativas de 4 de outubro de 2015, os socialistas precisaram do PCP e do Bloco de Esquerda para formarem Governo. Um ano depois, Carlos Carvalhas garante que não foi o PCP que mudou. O partido que enfrenta este XX Congresso, o primeiro desde que foi chamado para o arco da governação, “mantém-se na mesma, com os mesmos ideais e convicções”.