Já me tinham avisado: acerta antes, liga para alguém e marca, caso contrário não vai ser fácil. A meio da manhã, depois de fazer a mala, quando saí do hotel para o Pelourinho, falei com o taxista que me levou. O receio associado ao conselho que me tinham dado antes ganhava corpo. “Eu vou precisar de ir para o aeroporto mais logo, às 17:30. Você pode?” A resposta demorou um pouco, “eu vou parar para assistir ao jogo…” e depois veio a pergunta: “É voo doméstico? Porque você não vai só às 18h?”
A hora sugerida bate certo com o fim do jogo do Brasil contra o México, em Fortaleza. Jorge Santos tem nome bem português, mas o sangue é brasileiro. E assim sendo, ele faz tudo para poder ficar a ver a partida. Liga para um amigo, para ver se ele me pode levar levar ao aeroporto. “Aí, eu estou oferecendo o serviço para você, pode fazer um aeroporto ou não?”
A resposta do outro lado é negativa. No rádio intercomunicador ouço: “Não, eu vou parar para assistir ao jogo” Jorge insiste: “Você não quer ir mesmo às 18h?” O problema é mesmo o fim do jogo. Do Rio Vermelho ao aeroporto, sem trânsito, a viagem demora, em média, meia hora. Mas quando o jogo acabar as ruas de Salvador devem ficar inundadas de gente e carros, e facilmente a ida até ao aeroporto poderá demorar hora e meia. Não posso arriscar.
Jorge desiste: “Eu levo você…” Trocamos números de telefone. E eu saio no Pelourinho. As horas passam e o jogo aproxima-se. Tempo de regressar ao hotel. Estou, claramente, em contra-mão. Uma mancha verde e amarela dirige-se ao Pelourinho. E agora, um táxi para voltar? A sorte, e a localização do hotel, protegem-me. “Para onde você vai?” à resposta “Rio Vermelho” segue-se um aceno que significa positivo. “Então entra aí, eu vou mesmo ver o jogo para esse lado! Caso contrario não dava não.”
O ponteiro vai colado nos 80km/h. Pelo caminho quase não há trânsito neste sentido, apenas na direção contrária. O comércio está todo a fechar. Só os cafés e restaurantes se mantêm abertos. “Dia de jogo do Brasil é feriado, meu amigo!”, diz o taxista. Chegamos ainda o hino brasileiro não tocou em Fortaleza. Agora é esperar pelas 17:30 aqui. E rezar para que o Brasil já ganhe a essa hora, para Jorge não falhar.