Notícia mais ou menos de última hora: a Alemanha não é nenhum papão. Os ganeses empataram ontem (2-2) com os germânicos e demonstraram de que fibra são feitos. Descontraídos, alérgicos à submissão que intoxicou Portugal na estreia contra o mesmo adversário. Asamoah, Muntari, Ayew e Gyan mostraram que têm valor para seguir em frente — os portugueses que se cuidem na última jornada. Portugal volta a entrar em ação hoje pelas 23h. Desta vez o adversário é um velho conhecido que há 12 anos deixou meio mundo de boca aberta quando venceu a seleção lusa no Mundial-2002. Entre algumas ausências, pontos de interrogação, crises de identidade e confiança, veremos o que vai dar…

Este domingo começa com um Bélgica-Rússia (17h), que servirá para perceber se os primeiros são, de facto, candidatos a surpresa do Mundial, posto esse já abraçado pela Costa Rica. E por Colômbia e Chile num segundo patamar. Hazard e companhia terão de jogar mais para levar de vencida a seleção de Fabio Capello. Na primeira jornada, a Bélgica demonstrou muitas limitações na hora de mandar no jogo: foi notória a falta de movimentações, ideias e criatividade para abrir espaços na defesa argelina. Três horas depois começa o Coreia do Sul-Argélia, duas seleções que beneficiariam de uma vitória da Bélgica para discutirem o segundo lugar do Grupo H.

Portugal-Estados Unidos, às 23h

A tranquilidade de Paulo Bento já viveu melhores dias. A derrota pesada contra a Alemanha na estreia deixou marcas. Rui Patrício, Pepe, Fábio Coentrão e Hugo Almeida estão fora — Bruno Alves está em duvida. Soluções? Há duas vias. A mais expectável é que joguem Beto, Neto, André Almeida e Hélder Postiga/Éder. Mas há uma outra: Miguel Veloso pode passar para defesa esquerdo e William Carvalho entrar para o meio-campo. Mas sejamos justos: o problema de Portugal nem está nas peças do xadrez. Nem no tabuleiro. Este xadrez de que falamos tem 11 elementos e não podemos esperar que a rainha (Ronaldo) faça um milagre e ganhe jogos sozinho. Foi isso que se viu a espaços contra a Alemanha, uma equipa desesperada para fazer a bola chegar ao capitão. Portugal terá de saber quem é para saber para onde vai. Ou se quer ir…

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“É muito simples: ou ganhamos ou começamos a preparar-nos para fazer a mala”, eis as palavras de Paulo Bento. E é mesmo assim. Ou sim ou sopas. Afinal, esta é a seleção que chegou às meias-finais do Euro-2012, e que nem perdeu com a futura campeã europeia. Afinal, esta é a seleção com o melhor jogador do mundo, mas que conta também com grandes jogadores noutras posições. Há ausências? Sim, mas isso não pode servir de desculpa.

Ninguém esquece aquele jogo de 2002, pois não? É um bom aviso à tripulação. Aos 36′, os norte-americanos já estavam a vencer por 3-0. O melhor que Portugal conseguiu foi marcar dois golos. O talento tem muito que se lhe diga no futebol, é verdade, mas quando uma equipa quer mais do que outra é meio caminho andado. Vejam o Atlético Madrid. Vejam o Gana ontem… Equipas que encolhem os ombros e disputam a partida como se fosse a última; Guerreiros que cerram os dentes e dizem “vamos a isso!”.

“Sabemos o que temos de fazer, já passámos por momentos destes, já estamos habituados a momentos difíceis. Todo o grupo está unido, não queremos ir para casa mais cedo e é com esse objetivo que trabalhamos”, disse Raul Meireles na habitual conferência de imprensa de lançamento da partida. Fica a promessa.

O adversário é os Estados Unidos, que venceram na primeira jornada o Gana por 2-1. Dempsey marcou logo aos 29 segundos. O médio ex-Tottenham tornou-se no primeiro norte-americano a marcar em três Mundiais e já leva 38 golos na seleção, menos 19 do que Landon Donovan, o mítico avançado que até jogou aquele 3-2 em 2002. Depois os africanos cresceram e foram muito melhores durante boa parte do jogo, chegando até ao empate. Os EUA foram astutos e estacionaram atrás, não fossem eles comandados por um senhor do futebol mundial. Jürgen Klinsmann é o treinador desta seleção, o único homem que vai estar em Manaus que já venceu um Campeonato do Mundo (Itália-90). Já muito perto dos 90′, um canto voltaria a dar vantagem aos EUA (Brooks), que acabariam por vencer na estreia. Altidore lesionou-se e será a grande baixa contra Portugal.

“É uma situação muito difícil para eles, que depois da derrota com a Alemanha ficaram com as costas contra a parede”, afirmou Klinsmann na antevisão ao jogo. E deixou o aviso: “Acreditamos que podemos chegar a Manaus e vencê-los.” O equilíbrio entre as duas seleções é total: duas vitórias para cada uma e um empate (5-5 em golos).

Bélgica-Rússia, às 17h

Este domingo começamos com a Bélgica, que seria para muitos a sensação da prova mas que desiludiu contra a Argélia. Sim, começou a perder e virou nos últimos 20 minutos (golos de suplentes que saltaram do banco), mas demonstrou que tem problemas para se assumir como a equipa grande em campo. Faltam ideias e rotinas para desmontar as defesas que estacionam atrás. Não esperamos esse tipo de submissão por parte da Rússia, porque depois do empate contra a Coreia do Sul terá de fazer pela vida.

A última vez que Bélgica e Rússia se encontraram num Mundial a vitória sorriu aos primeiros. Este episódio aconteceu em 2002, na fase de grupos. Marc Wilmots, o selecionador belga atual, até marcou nessa partida, que acabou 3-2. Desse tempo, apenas Wilmots e Van Buyten ainda resistem ao implacável passar do tempo. Já lá vão 12 anos… Mas os números da FIFA dizem-nos que a Rússia leva vantagem no histórico entre ambas: quatro vitórias contra três da Bélgica; mais um empate.

Coreia do Sul-Argélia, às 20h

Jong-Boo Kim e Soon-Ho Choi. Sabe quem são? Deixe lá, não é grave. Foram os autores dos golos do único duelo que a FIFA regista entre ambas as seleções. Foi em dezembro de 1985, num torneio em terras mexicanas. Kim marcou primeiro aos 56′ e Choi matou a partida aos 90′. Agora, passados quase 30 anos, teremos um duelo a doer, num Campeonato do Mundo. Sete jogadores do 11 titular da Coreia jogam na Europa, nomeadamente em Inglaterra e Alemanha. Já não há o dedo de Guus Hiddink como em 2002 mas esta Coreia promete dar luta pelo apuramento neste Grupo H.

A Argélia tem uma equipa mais interessante. A estrela é Féghouli, do Valência, mas Soudani, o ex-avançado do Vitória de Guimarães, aparece em bom plano. Tanto que empurrou para o banco Slimani e Ghilas, dois avançados que atuam no Sporting e FC Porto, respetivamente. Na defesa, está Madjid Bougherra, o “mágico”. A alcunha colou em 2005/06 quando chegou ao Crewe Alexandra. A equipa não vencia há 17 jogos, jejum esse que acabou com a chegada do argelino. A partir daí, os adeptos ofereceram-lhe esse simpático nome. Talvez seja preciso voltar a usar essa magia contra os sul-coreanos, pois a sua seleção não vence uma partida do Mundial desde 1982 (3-2 vs. Chile).

A magia e o futebol não são os únicos focos deste jogador que já representou a seleção 63 vezes e que, aos 31 anos, se apresenta como o mais velho. Bougherra colabora também com a UNICEF, como embaixador da boa vontade da Argélia. Porquê? “É muito importante para mim porque me dá a oportunidade de ajudar crianças e de fazer chegar a mensagem sobre as responsabilidades sociais do futebol. Quando és um futebolista ao mais alto nível tu tens de dar o exemplo. Criei também a Fundação Bougherra para ajudar jovens e famílias necessitadas”, disse, com magia e muita propriedade, em entrevista ao site da FIFA.