O primeiro-ministro iraquiano Nuri al-Maliki sugeriu esta quarta-feira uma amnistia geral dirigida aos combatentes das tribos sunitas que se rebelaram contra o Governo mas que não abrange os rebeldes radicais do Estado Islâmico no Iraque e Levante (ISIS).

O anúncio destinado a reduzir o apoio aos militantes, que após uma ofensiva-relâmpago em junho controlam vastas regiões do território iraquiano e ainda na vizinha Síria — foi emitido um dia após a sessão de abertura do novo parlamento, que permanece profundamente dividido e inoperante.

Bagdad anunciou uma contraofensiva militar, sem resultados significativos, enquanto diversos responsáveis internacionais avisaram o governo de Bagdad, controlado por uma fação xiita fiel a al-Maliki, que “não há tempo a perder”, enquanto o poderoso grupo ‘jihadista’ que liderou o avanço no terreno já apelou ao apoio de profissionais e especialistas para participarem na “construção” do recém-proclamado Estado pan-islâmico.

A sugestão de al-Maliki, emitida durante o seu discurso televisivo semanal, constitui uma tentativa para fraturar a ampla aliança de ‘jihadistas’, apoiantes do ex-presidente Saddam Hussein — condenado à morte e enforcado no final de 2006 –, tribos antigovernamentais e setores da população local, que agora controlam vastos territórios em cinco províncias do norte e centro do país.

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“Anuncio a concessão de amnistia para todas as tribos e pessoas envolvidas em ações contra o Estado”, mas que agora “regressam à sensatez”, excluindo os envolvidos em mortes e atos violentos, disse al-Maliki.

No imediato, não ficou explícito quem será abrangido pela amnistia, mas analistas citados pela agência noticiosa AFP referiram a necessidade de alguma forma de reconciliação política para convencer os árabes sunitas, em rutura com um governo dominado por xiitas, a abandonarem os ‘jihadistas’ e os restantes grupos envolvidos na rebelião.

Apesar de a minoria sunita do Iraque não se identificar na generalidade com o ISIS, a política sectária e repressiva de al-Maliki também os terá afastado em definitivo de uma cooperação com as forças de segurança.

A proposta de al-Maliki surgiu um dia após a aguardada sessão de abertura do Conselho de Representantes (parlamento), que não evitou uma sessão caótica e assinalada por insultos e ameaças entre os deputados.

Os representantes sunitas e curdos optaram por abandonar a sessão, e a falta de quórum comprometeu a eleição do novo presidente do hemiciclo.

O ISIS já declarou um “califado” desde a província síria de Alepo até à província iraquiana de Dialya, com o seu líder al-Bagdadi a apelar a todos os muçulmanos para “emigrarem” em direção ao novo território, que põe em causas as fronteiras existentes e desenhadas pelas antigas “potências protetoras”, Reino Unido e França, após a I Guerra Mundial.

De acordo com dados ontem divulgados pela ONU, o mês de junho registou 2.417 mortos e 2.287 feridos no Iraque, com comparação com as 800 vítimas registadas em maio.