O post foi colocado ao início da tarde de domingo, horas antes da decisão que o Banco de Portugal prometeu para a noite de domingo e já depois de Marques Mendes ter explicado os contornos gerais da solução. E é um contundente alerta sobre o que se tem passado e o que se anuncia para segunda-feira. Santana diz que não se pode prejudicar os pequenos investidores no BES da mesma forma que a família Espírito Santo; responsabiliza o Banco de Portugal e a nova administração pelos prejuízos que estes investidores terão; desconfia do modelo em que os restantes bancos podem vir a lucrar com o “novo BES”.

Nesse texto colocado no Facebook, Santana dá o mote: “Anuncia-se uma solução dicotómica para o BES”, entre um novo banco e o ‘bad bank’, que ficará com ativos tóxicos. A solução vai seguir, “os termos (europeus) das novas regras de recurso a uma linha de recapitalização”, que “torna o novo regime especialmente gravoso para os acionistas”, diz o ex-primeiro-ministro. Mas pede: “Pondere-se, no entanto, o seguinte”. E “o seguinte” vai em pontos (que o Observador aqui reproduz, com destaques nossos):

  • “Esta é a primeira vez que o novo sistema vai ser aplicado. Nós, Portugueses, devemos ter cuidado em sermos, de novo, “cobaias” do experimentalismo sócio-financeiro de alguns plutocratas da União Europeia e de um sistema de supervisão recheado de histórias de malogros;
  • O Banco de Portugal andou estas semanas a garantir que o BES estava seguro e que tinha capitais bem acima dos ratios legais pelo que tinha a sua solvabilidade garantida. Foi dito em comunicado oficial que o BES era uma realidade completamente diferente do GES;
  • O novo chairman, Vítor Bento, nomeado na sequência da intervenção do Banco de Portugal, escreveu uma carta com divulgação pública garantindo que todos podiam estar seguros quanto à confiança que o BES merecia;
  • Depois dessas declarações e desses comunicados as ações do BES continuaram cotadas em Bolsa e os depositantes, clientes e pequenos investidores acreditaram na palavra dos citados responsáveis;
  • Pelos vistos, esses responsáveis enganaram-se redondamente, o que é, obviamente, gravíssimo;
  • Segundo as normas da Diretiva da União Europeia, os depositantes devem ser protegidos a todo o custo e os acionistas devem pagar. Mas os acionistas devem pagar todos pela mesma moeda, tenham tido, ou não, responsabilidades na gestão ou na escolha dos gestores? Devem os pequenos investidores ser tratados como se fossem todos da Família Espírito Santo ou dos grandes acionistas comprometidos com a gestão anterior?
  • Então o Fundo de Resolução – os bancos – ficam com o que é bom e os acionistas anteriores ficam com o que é mau? E, depois, a nova entidade é vendida, os bancos são pagos do que emprestaram e, provavelmente, ainda lucram com isso?
  • Vítor Bento foi nomeado para gerir o BES, não para ser o chairman de um banco novo sem problemas. E se o BES continua, não pode Vítor Bento e os futuros acionistas ficarem sem o que dá problema e os atuais pequenos acionistas, que nunca foram a uma Assembleia Geral nem nunca conheceram ninguém responsável pelo BES, ficarem com os prejuízos e, na prática, sem o seu dinheiro.

 

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