O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou esta quarta-feira que uma finança sem ética pode levar à ruína de um país e criticou a conflitualidade política “exacerbada”, defendendo ser necessário ultrapassar divisões.

“(…) Uma economia e uma finança sem ética pode levar à catástrofe e à ruína de um país de que são vítimas, sempre, primeiro os mais pequenos e os mais pobres”, disse António Marto, também bispo da Diocese de Leiria-Fátima, ao comentar, em Fátima, o caso BES.

Na conferência de imprensa que antecedeu o início da peregrinação dos migrantes ao santuário, António Marto referiu que “aquilo que está a acontecer entre nós é mais uma manifestação daquilo que o papa Bento XVI chamava a ditadura do capitalismo financeiro especulativo e o papa Francisco chama a tirania económico-financeira, especulativa, virtual, bolsística, desligada da economia real”.

Para o prelado, esta situação deve levar a sociedade portuguesa a refletir “sobre os valores em que assenta a vida do país, deve levar também a olhar de uma maneira global e não meramente pontual para a problemática do país”, onde se inclui “a queda drástica da natalidade e a perda de meio milhão de jovens em dez anos” que podem colocar em causa a sustentabilidade do Estado social.

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“É preciso que toda a sociedade, em todas as suas instituições, governamentais, partidárias, de parceiros sociais, se ponham a refletir e, concretamente, prestem atenção a esta grande chaga social que está, também, na base desta emigração, que é a falta de trabalho”, observou.

Para o vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, “tudo isto deve levar, também, a uma maneira nova de ver a política, não ver apenas a política como uma mera luta partidária”.

“A conflitualidade faz parte da política, mas estamos numa conflitualidade exacerbada e que no momento de emergência social e económica que vivemos, com os problemas que aflorámos, é necessário ultrapassar certas divisões, certos muros, para chegarmos a um consenso nacional, a um pacto nacional, porque o país não pode viver numa instabilidade, numa insegurança e numa precariedade contínuas”, defendeu António Marto.

No dia 03 de agosto, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, fez a sua primeira declaração ao país em quatro anos de mandato para dizer como se sentiu traído pela gestão de Ricardo Salgado, acusando o Grupo Espírito Santo de ter desenvolvido “um esquema de financiamento fraudulento”.

O governador informou ainda que, nesse dia, o Banco de Portugal tomou controlo do BES e anunciou a separação da instituição.

Questionado sobre a exposição do Santuário de Fátima à situação do BES, o reitor, Carlos Cabecinhas, declarou que o santuário está tranquilo em relação a esta questão.