Seria verdade? Poucas horas faltavam para entrar no La Rosaleda, e os rumores coincidiam. Todos: Iker Casillas ia começar o jogo sentado. Qual bancada, seria no banco, o dos suplentes. Alguém o preterira e achara que, com o Málaga pela frente, o melhor par de mãos para vestir as luvas do Real Madrid não era o seu. E não o foi. A mando de José Mourinho, el capitán era suplente, por motivos técnicos, numa partida da liga espanhola.

Nesse dia, 22 de dezembro de 2012, o titular foi Antonio Adán. Espanto. De repente, não se falava de outra coisa em Espanha — a lenda vida, o homem que erguera as taças de dois Europeus, um Mundial e duas Ligas dos Campeões, o guardião com mais de 600 jogos em cima, estava a ser preterido. E a conversa continuaria. Iker ainda seria titular nas três jornadas seguintes do campeonato, até que Álvaro Arbeloa o tramou — aos 17 minutos de um jogo contra o Valência, no final de janeiro, o defesa espanhol chocou com o guardião e Casillas fraturou um osso na mão. Era a ‘desculpa’ que Mourinho precisava.

Os médicos disseram ao português que Casillas só voltaria daí a seis ou oito semanas. Ficaria quase três meses de fora. E, pelo meio, Mourinho foi espreitar a Sevilha, onde mantinham Diego López escondido, também no banco. O português resgatou-o, levou-o para Madrid e, a partir daí, a baliza foi sua. Em março, Iker já estava bom. Mas nada feito. Não mais o capitão do Real Madrid voltaria a ser titular em 2012/13. A escolha estava feita.

E a polémica lançada: discussões no balneário, jogadores divididos e críticas a Mourinho. De tudo a imprensa falou. “Para que me entendam: eu sou treinador de futebol”, já dizia José, em maio. “Eu escolho quem joga. Não o faço atirando uma moeda ao ar. Faço-o pensando, discutindo, analizando e estudando as minhas decisões durante muitas horas. E gosto mais mais do Diego López do que do Iker Casillas”, revelou, citado pelo El País.

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Para Mourinho, era “simples”, e explicou porquê: “Gosto de um guarda-redes que joga bem com os pés, que sai bem aos cruzamentos, que domina o espaço aéreo. Iker é um fenómeno entre os postes, faz defesas fantásticas. Mas gosto mais de outro tipo de guarda-redes.”

Agora, dá-se um salto de duas épocas até 2014/15, à primeira jornada da Premier League. Mourinho cumpre a segunda temporada no retorno ao Chelsea, última equipa, entre as que têm fome de títulos, e estrear-se no campeonato. Fá-lo bem: vitória por 3-1, na visita ao Burnley. Mas a novidade esteve na baliza. Porque lá não esteve Petr Cech, o checo de 32 anos e com quase 500 jogos feitos pelo clube, que viu um belga, dez anos mais novo, a aparecer no seu lugar.

Cerca de um ano e meio depois, Mourinho colocava assim outra lenda das balizas no banco. Desta feita, a ‘culpa’ foi de Thibault Courtois. O guardião, que já era do Chelsea e que, nas últimas três épocas, esteve emprestado ao Atlético de Madrid, foi titular e, no final do encontro, o português estava contente. “Hoje [ontem] foi a primeira escolha, e fezo suficiente para voltar a ser a primeira opção no próximo jogo”, admitiu Mourinho, na conferência de imprensa, após o encontro. Ou seja, Petr Cech, o checo que venceu três campeonatos, uma Liga dos Campeões e uma Liga Europa, estará tramado?

Não necessariamente. “Quando se tem um profissional de topo como o Petr, se não mostrares empenho, terá problemas”, explicou o treinador, ao sublinhar que pretender “ficar” com o guarda-redes checo. “Espero que ele fique”, reforçou. “Nenhum jogador fica contente quando não joga todos os encontros. Mas ele não pediu [por uma transferência], e espero que não peça”, revelou.

Iker Casillas, no Real Madrid, nunca chegou a pedir. Nem durante a temporada passada, na qual Carlo Ancelotti seguiu (em parte) o legado deixado por Mourinho: o italiano só utilizou o guarda-redes em duas partidas do campeonato, mas usou-o em todas as que os merengues realizaram na Copa do Rei e na Liga dos Campeões. Curiosamente, foram as provas que o Real Madrid acabou por vencer.

Agora, resta saber se preferência de José Mourinho por Thibault Courtois foi um teste ou o indício de um hábito que se manterá ao longo desta época. Com Iker Casillas, foi quase. E com Petr Cech, como será?