O verão instável que se tem registado no litoral Norte do país tem penalizado “severamente” os concessionários de praias e bares da região, que, “na sua generalidade”, se encontram numa grave situação económica, com acumulação de prejuízos.

“Aqui a Norte temos sido severamente penalizados [com o tempo instável]. Os empresários desta área de negócio dos apoios de praias e das praias estão numa situação muito grave em termos económicos. Não sei como vai ser no final da época balnear”, afirmou hoje, em declarações à Lusa, o presidente da Associação de Concessionários de Praias e Bares da Zona Norte, Luís Carvalho.

Luís Carvalho, que representa cerca de 60 concessionários, de Espinho, Gaia e Matosinhos, contabiliza pelos dedos das mãos os “bons dias de praia” desde o início da época balnear (15 de junho) até esta segunda quinzena de agosto e estima que no final deste período (15 de setembro) “muitas contas ficarão por pagar”.

A precipitação que caiu em julho, que, de acordo com o Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA), foi “o oitavo mais chuvoso desde 1931 e o mais chuvoso deste século”, e um registo semelhante na primeira quinzena de agosto, afetou muito o negócio dos bares e do aluguer de barracas de praia.

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“Nós dependemos muito, quase em exclusivo, do mês de agosto, por causa das férias e dos emigrantes, que são quem tem sustentado este negócio na zona Norte. Quando o tempo está instável as pessoas não aparecem, não consomem e este verão tem sido assim”, lamentou Luís Carvalho.

O presidente da associação afirmou que são muitos os concessionários com prejuízos e dívidas, sendo que o grande problema reside no pagamento aos nadadores-salvadores, porque “quem suporta as despesas com a segurança balnear são os concessionários e a generalidade dos concessionários não tem capacidade financeira para suportar todos os encargos”.

“Muitos estão crivados de dívidas, muitos desistem outros estão para desistir. Não pagam a fornecedores, pedem dinheiro emprestado a familiares. O que imagino é que pode haver um colapso muito grande” no final da época balnear, sustentou.

Também José Pereira, concessionário há 53 anos de um equipamento de praia em Gaia e presidente da Associação local de Concessionários de Praia e Bares, desabafou à Lusa que “julho foi para esquecer e agosto têm sido para esquecer”, não se lembrando de “um verão assim”, que “está a prejudicar muito o negócio”.

Com a concessão de 70 barracas mas apenas cerca de uma dúzia montadas, José Pereira adiantou ainda que, apesar de apenas terminar no dia 15 de setembro, a época balnear “está praticamente no fim”, porque a partir de agora, “quando começa o futebol, as festas e depois a escola, as praias vão abaixo”.

E mesmo que o sol decida brilhar a Norte até ao final da época o negócio já não conseguirá restabelecer-se, afirmaram os responsáveis.

“Já não é possível salvar o negócio (…). Mesmo que venha o bom tempo já nunca daria para recuperar o que se perdeu. Quando a partir da segunda quinzena de agosto o tempo começa instável, como está a acontecer, há uma desistência natural da praia. Em setembro, a frequência é muito residual… há gente com um café, mas horas e horas a ler um livro, é um movimento que não faz negócio, já nunca mais há qualquer tipo de recuperação”, concluiu Luís Carvalho.

O IPMA refere no seu Boletim Climatológico Mensal que julho caracterizou-se “por valores médios de temperatura média do ar inferiores ao normal (1971-2000) e por valores da quantidade de precipitação superiores”, registando-se no mês passado “o 3.º valor da temperatura máxima mais baixo neste século”.

Já em junho, o mês caracterizou-se por “valores médios de temperatura média do ar e de precipitação próximos do valor normal (1971-2000)”.