O projeto MEDEA é uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Física (SPF) e da REN — Redes Energéticas Nacionais, existe desde 2008 e envolve alunos (e também escolas e professores) de todo o país, que se organizam anualmente em equipas para estudar e comparar os campos elétricos e magnéticos do quotidiano. O objetivo é aprender, divulgar ciência e desmistificar a ideia instituída de que a muito alta tensão é mais prejudicial que os eletrodomésticos e aparelhos que utilizamos no dia-a-dia.

Maria José Ribeiro Gomes, professora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e coordenadora do projeto MEDEA explicou ao Observador que é muito importante “relacionar o conhecimento adquirido na sala de aula com a vida que nos rodeia” e que por isso este projeto é uma oportunidade para “trazer os conceitos da sala de aula para uma medição experimental, e depois associá-la e interpretá-la do ponto de vista da vida quotidiana.”

A professora realça que “um dos resultados mais extraordinários é o espanto dos alunos quando fazem as medições e percebem que os cabos de muito alta tensão produzem um campo eletromagnético muito inferior aos aparelhos que temos nas nossas casas”. E estes tipo de experiências “cria um bichinho muito importante: a curiosidade científica”. Nos últimos dois anos estas atividades passaram a ser extracurriculares mas os alunos mantêm-se empenhados, porque “veem o seu trabalho ter uma aplicação prática na vida das pessoas, e isso dá-lhes motivação para querer fazer cada vez mais”.

Na prática, o projeto MEDEA funciona da seguinte forma: todos os anos a SPF distribui o programa pelas escolas de todo o país e selecionam 21 equipas que são organizadas de acordo com a localização geográfica. “A ideia é descentralizar e que toda a gente participe e aprenda”, diz Maria Gomes. As escolas formam equipas coordenadas por um professor com o objetivo de medir os campos eletromagnéticos em muito baixa frequência no meio ambiente, ou seja, os objetos do quotidiano que estão ligados à corrente elétrica. Sublinha ainda que “o rigor científico é uma exigência de base” e que a finalidade é comparar os resultados e fazer a ponte para os efeitos na saúde humana, de acordo com a literatura científica e com as tabelas oficiais.”

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A avaliação é feita exclusivamente com base numa página na internet que os alunos têm de criar. Aí têm de apresentar os dados que recolheram na sua investigação e os resultados que obtiveram e produzir um vídeo explicativo com a duração de três minutos. O trabalho é integrador porque envolve diferentes valências: investigação na literatura e no terreno, entrevistas, escrita e componente multimédia. A liberdade criativa é total, e os resultados, sublinha Maria Gomes, são muito estimulantes.

A equipa vencedora recebe um prémio pelo trabalho, que varia todos os anos. Há uma componente financeira e ofertas relacionadas com a SPF (quotas, inscrição em congressos e conferências) e, sempre que possível, é dada aos alunos a oportunidade de apresentar publicamente os seus trabalhos. Os vencedores da edição 2014 foram “Os Vieirinhas”, da Escola Básica do 2º e 3º ciclo com Ensino Secundário Vieira de Araújo, de Vieira do Minho, e os “Super Teslas”, da Escola Básica e Secundária de Fajões, de Oliveira de Azeméis. A “Tesla Squad”, constituída por alunos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foi a equipa que ganhou o primeiro prémio este ano.

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A equipa “TeslaSquad” andou pela redação do Observador de medidores em riste. Traduziram os números obtidos e pouparam-nos às contas: “vocês têm um ambiente de trabalho muito bom”. Ficámos mais descansados.

Nós não conseguiríamos viver sem campos eletromagnéticos, quanto mais não seja porque biologicamente evoluímos sobre a sua influência: a Terra tem um campo magnético, e as pessoas também. Depois, há os aspetos do quotidiano. “Como viveria a sociedade moderna sem eletricidade?”, pergunta Maria José Ribeiro Gomes. A professora explica que para reduzirmos ao máximo a influência dos campos eletromagnéticos teríamos de prescindir de confortos como o micro-ondas, máquina de lavar e telemóvel. Na prática, os números vêm desmistificar o seguinte: o eletromagnetismo que é produzido pelas instalações de correntes de muito alta tensão não é mais forte do que existe nas nossas casas. Observe-se a relação entre os valores medidos, por exemplo, pela Escola Secundária Dr. Manuel Gomes de Almeida de Espinho na 3ª edicão do projecto MEDEA em 2012:

tabela comparativa

n (de nano) = 0.000 000 001 = 10^-9; m (miu=micro) = 0.000 001 = 10^-6

Maria José Ribeiro Gomes sublinha que a Comissão Internacional para a Proteção Contra as Radiações Não-Ionizantes (ICNIRP) recomenda 1000 V/m para valor máximo de campo elétrico e 0.1 mT (100 000 nT) para valor máximo de campo magnético, valores igualmente adotados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para dar uma medida desta segurança, nota que a OMS, através da Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), classifica o risco dos campos eletromagnéticos na vizinhança imediata de linhas de transporte de energia ao nível do risco de uma máquina de café.

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