Um, dois, três e, de repente, já eram “várias centenas” de pessoas que partilhavam uma coisa: o Facebook eliminara as suas contas. Ao início não o sabiam, mas não demoraram a descobrir o porquê. Todos tinham um nome no perfil que a empresa não considerava autêntico. Portanto, apagou-os. Havia, contudo, um outro aspeto que as tais centenas de utilizadores tinham em comum — todos eram drag queens.

Ou seja, eram homens que, no dia-a-dia, se mascaram de mulheres e usam roupas femininas. E por, na rede social, adotarem nomes que não eram originalmente os seus, o Facebook decidiu apagar os seus perfis e enviar-lhes um email. Neles disse-lhes que tinham de mudar o nome de perfil ou apresentar documentação que comprovasse autenticidade dos nomes que escolheram.

Os drag queens não gostaram. E fizeram questão de o mostrar e exigir uma solução. Foi isso que aconteceu na quarta-feira, quando alguns representantes deste grupo de pessoas se deslocaram a Menlo Park, na Califórnia, EUA, até à sede da empresa fundada por Mark Zuckerberg.

Não foram recebidos pelo próprio. Mas o encontro realizou-se. E terá corrido bem. Pelo menos foi essa a opinião do Facebook, segundo a voz de David Campos, administrador da empresa que mediou as conversações com o grupo de drag queens. “Eles falaram e o Facebook ouviu. Ambos os lados concordaram que o objetivo [da reunião] era fazer com que as pessoas usassem o seu nome verdadeiro, e que isso nem sempre significa que é a sua identidade legal”, revelou o dirigente, ao falar com a revista Time.

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Antes, porém, tudo começou com um pedido de desculpas do Facebook. “E o reconhecimento de que os seus termos e condições de utilizações têm falhas”, admitiu. E que precisam de ser corrigidos.

Quem o garantiu foi Chris Cox, diretor de produto da empresa que, aliás, também endereçou um pedido de desculpas aos drag queens. E não só. “Quero apresentar desculpas aos drag queens, drag kings, transexuais e à comunidade LGBT pelas dificuldades pelas quais os fizemos passar ao lidarem com as suas contas de Facebook nas últimas semanas”, escreveu, numa mensagem publicada na própria rede social. O dirigente explicou também que, “em 99%” dos casos em que a empresa deteta um nome falso, ele está associado a “maus atores que fazem coisas más”, como o bullying.

Já David Campos encarou os drag queens como “a cara de um problema” que pode estar a ser enfrentado por muitos utilizadores, e que o Facebook lhes prometeu, para breve, uma “correção técnica” ao problema. Enquanto ela não chega, a rede social devolveu o perfil aos afetados. “Isto é uma grande vitória não só para as queens, como para todos os outros que já conhecemos pelo caminho cujo nome nem sempre combina com o que aparece no bilhete de identidade”, sublinhou Lil’ Miss Hot Mess, uma das drag queens afetada, ao The Guardian.