destaque

Se o ego fosse um balão, o oxigénio seria trocado pela confiança. Mas a teoria até daria razão a Moussa Maazou. Todos têm duas pernas para correr e rematar ou uma cabeça para pensar. Nisso, seja entre amigos, na distrital ou já como profissão, são todos iguais. “Não tenho nada a invejar a um jogador do Barça ou do Real. Conheço as minhas qualidades. Tenho tudo o que alguém do Real pode ter”, dizia o homem dos golos do Níger, ainda novato, em 2011. Tinha 23 anos e estava no Zulte Waregem, um clube belga.

Agora, aos 26, com meias em baixo, coladas aos tornozelos e com pouca pinta de jogador, tem sete golos em oito jogos de liga portuguesa. Os últimos dois conseguiu-os em quatro minutos: primeiro, à cabeçada, com os 1,86m escondidos atrás dos defesas do Sporting; depois, à bala, disparada pela perna direita, em corrida, num contra ataque, para atirar a bola contra a rede da baliza. Maazou tem muita coisa: é rápido, bastante para o corpanzil que tem, sabe rematar, não fica quieto e vê-se que gosta de ter uma equipa a passar-lhe sempre a bola e a procurá-lo para tabelar e inventar coisas.

Até agora tem chegado. Está colado a Jackson Martínez e a Anderson Talisca no elevador que carrega os goleadores — o colombiano do FC Porto, esta jornada, também marcou dois. Têm sete marcados, mais do que os seis que, na temporada passada, Maazou recolheu da aventura de 33 jogos no Vitória de Guimarães. Confiante, arrogante ou otimista, que escolha o freguês. Maazou, porém, é bom e tem mostrado porquê. Ele e o Paços de Ferreira. Os amarelos, parece, são como um íman que só mexe quando está próximo de um único metal – neste caso, Paulo Fonseca.

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Do FC Porto, o treinador saiu a mal. Criticado, obreiro de desilusões e com derrotas. Mas não em Paços. Por lá, derrota é coisa que, em 38 jogos no campeonato — entre as três dezenas em 2012/13 e as oito jornadas que leva na atual edição da liga — só apareceu frente aos grandes. Sim, a fazer o que Paulo Fonseca lhe diz, o Paços de Ferreira só perdeu com FC Porto, Benfica e Sporting. Mais ninguém. E só em seis jogos. Agora os castores estão em 5.º a quatro pontos da liderança. Eis uma relação que parece dar sempre frutos. Ah, e esta jornada o Paços venceu fora (1-2) o Boavista.

desilusão

Seria “um jogo à Champions”, com a mesma intensidade “física e emocional”. Rotação e ritmo acelerados teve-os em fartura. O problema é que o Benfica levou de Braga um resultado dos que mais tem tido na Liga dos Campeões – uma derrota. Foi a primeira dos encarnados esta época, em competições nacionais. E mau sinal. Porquê? Pois, como no Mónaco, a meio da semana, voltou a pouco fazer e jogar para quem lidera o campeonato e quer chegar a maio a comandá-lo.

O Benfica teve oportunidades. Matheus, o guarda-redes do Braga, parou uma, dois e três bolas, daquelas que fazem erguer os braços rumo céu em quem as remata. Mas o resto foi muitas vezes pobre: a defender, Salvio e Gaitán deixaram uma e outra vez Maxi e Eliseu sozinhos, a lutarem contra os extremos bracarenses. O motor de Enzo, que não teve direito a pré-época e pouco descanso gozou após o Mundial, continua a trabalhar a baixas rotações. E Jesus não acerta com quem lhe deve fazer companhia no centro do relvado – pior, Jesus só fez uma alteração, e no ataque, para tentar corrigir a equipa. Apenas Jonas se levantou do banco para ir correr em cima do relvado.

A equipa continua líder, com um ponto a mais que o FC Porto. Mas terá que acordar, espreguiçar-se e começar a acertar, jogo sim, jogo sim, se quiser fazer boa figura na Europa e não deixar que os adversários na liga se aproximem. Do outro lado, quem vê toda a gente a afastar-se é o Gil Vicente, única equipa que, mais de dois meses depois do arranque da liga, ainda não ganhou a ninguém. Desta vez foi a Moreira de Cónegos perder (2-0). Já agora, viu o golo que Gerso por lá inventou? Já houve quem escreveu que desafiou as leis da física.

frase

“Podia comentar o que o Domingos era enquanto jogador quando tinha o Artur Jorge enquanto treinador, mas não quero ir por aí…”. Quem vai à luta e tem um dedo nervoso no gatilho tem de esperar que, do outro lado, o adversário seja igual. Domingos Paciência talvez não o esperasse, mas Rui Vitória respondeu-lhe à letra. O treinador do Vitória de Setúbal, antes do duelo entre as duas equipas, avisara que “ao mínimo toque”, os avançados vimaraneses “caíam”. Domingos estava preocupado “com as faltas que eles arranjam”. E Rui, do Vitória Sport Clube, o de Guimarães, resolveu mexer no passado.

Porque do topo da liga não se mexe. A equipa minhota venceu em Setúbal (0-1), está em terceiro, a dois pontos do topo e, se tudo terminasse agora, rebentaria champanhe por se qualificar para a Champions. Calma, ainda falta muito. Mas este Vitória parece ser um caso sério. “Jogamos como se estivéssemos na rua, e é isso que vamos continuar a fazer. Já correu mal uma vez ou outra, mas a maioria dos jogos correu bem. E a continuarmos assim vamos ter mais alegrias”, defendeu Rui Vitória. Alegre ou triste, veremos como acaba na próxima jornada, quando receber o Sporting no Estádio D. Afonso Henriques, na segunda vez que acolherá um grande na cidade berço (já empatou a um golo com o FC Porto).

resultados

Vitória de Setúbal 0-1 Vitória de Guimarães
Boavista 1-2 Paços de Ferreira
Moreirense 2-0 Gil Vicente
Arouca 0-5 FC Porto
Nacional da Madeira 1-0 Académica
Estoril Praia 1-2 Belenenses
Sporting 4-2 Marítimo
Sporting de Braga 2-1 Benfica
* o Rio Ave – Penafiel joga-se a partir das 20h de segunda-feira

É como um funil: à medida que as jornadas avançam, a turma dos invictos vai-se estreitando. Com o resultado do Benfica em Braga, apenas FC Porto e Sporting permanecem agora como as equipas que ainda não abriram a porta às derrotas. Nos cinco primeiros estão os grandes e os minhotos (o Sporting de Braga está em quinto), separados por cinco pontos. Depois surgem logo o Belenenses e o Paços de Ferreira, os pequenotes que teimam em cheirar os lugares europeus — um ‘bravo’ também para Lito Vidigal, homem das ordens em Belém, pelos resultados e o discurso que vai mantendo. E mais um. Este para um golo, o de Fredy Montero, colombiano que, mais de 11 horas depois, voltou a marcar um golo em Alvalade.

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