Números 9, 28, 36, 41, 49. Estrelas 5 e 7. Em novembro de 2010, foi esta a combinação vencedora que permitiu a um grupo de vinte apostadores madeirenses arrecadar o primeiro e segundo prémios do Euromilhões. A sorte grande saiu a um grupo que passava dificuldades, pessoas que tinham sido afetadas diretamente pelo temporal que havia assolado o arquipélago em fevereiro desse ano. O episódio teve como palco uma pequena tabacaria no mercado da Penteada, na freguesia de São Roque, no Funchal, cuja dona também fazia parte do grupo de apostas até três semanas antes do sorteio.

No total eram cerca de 46 milhões de euros a dividir pelas vinte pessoas que decidiram os 15 números e as cinco estrelas usadas nos boletins de aposta. Feitas as contas, cada um recebeu à volta de 2,3 milhões. Mas podiam nem ter recebido nada, porque a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – que controla o jogo em Portugal – não reconhece sociedades de apostadores e entrega os prémios a quem tem os originais dos boletins. Ora, eles estavam com Joana Silva, dona da tabacaria e autora da chave vencedora. “Eu é que tenho os originais, e se quisesse até podia fugir…”, dizia, na altura, ao Diário de Notícias.

Não fugiu e distribuiu o prémio pelos vencedores, mas também não terá ficado de mãos a abanar, apesar de já não estar na sociedade na altura do sorteio. “Alguns reconheceram” o seu papel na vitória, conta agora Joana Silva ao Observador, mas não a maioria. Os felizardos da Penteada “eram pescadores, passaram momentos muito difíceis” até ganharem o Euromilhões, diz.

Entre os vencedores havia algumas das centenas de pessoas que ficaram desalojadas devido ao temporal que se abateu sobre a Madeira a 20 de fevereiro de 2010. A intempérie provocou a morte a 32 pessoas e ferimentos em muitas dezenas.

Na altura, “ninguém estava bem”, as pessoas “viviam para comer”, pelo que o prémio do Euromilhões as ajudou a recompor a sua vida. Mas não só. “Ajudaram os familiares mais próximos”, mas também “foi bom para a economia local”, afirma Joana Silva, que não esconde que “um ou dois” tenham feito a sua excentricidade. “Todos eles tiveram o seu capricho, mal seria se não tivessem”, ri-se a dona da tabacaria, que, sem especificar muito, adianta que os automóveis foram das principais compras daqueles a quem a sorte sorriu.

Apesar de alguns terem sido mais excêntricos, fazendo despesas que os deixaram de novo numa situação financeira delicada, no geral “está tudo bem” com os restantes, diz a dona da tabacaria, que continua no mercado da Penteada à espera dos boletins de apostas dos que sonham em ser milionários.

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