No Alentejo, a Monte-ACE quer ajudar os jovens a lançarem negócios agrícolas e, em seis dias, recebeu 22 manifestações de interesse. O projeto New Deal for Youth Employment foi lançado a 28 de outubro pela Organização Não-Governamental (ONG) alentejana, em parceria com a Universidade de Évora, a associação Agricultores do Sul e com a colaboração do Instituto do Emprego e Formação Profissional. “Há necessidade de fomentar o emprego jovem no setor agrícola”, explicou ao Observador Carmen Caetano, coordenadora do projeto.

A iniciativa alentejana visa contribuir para a empregabilidade na zona centro do Alentejo através da dinamização de ações de formação, visitas a explorações agrícolas e um estágio profissional. A par com esta iniciativa, a ONG também lançou um Núcleo de Apoio ao Empreendedorismo Agrícola, que vai acompanhar e aconselhar tecnicamente jovens que queiram criar o próprio emprego e lançar projetos empresariais. Durante 18 meses, o projeto vai ser financiado através dos EEA Grants (Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu) e pretende chegar, no mínimo, a 30 jovens.

Objetivo do projeto é chegar a 50 jovens, envolver 25 mentores com mais de 50 anos e 30 professores e a iniciativa conta com dois parceiros.

No InSocialChange, o apoio à empregabilidade dos jovens também chega via EEA Grants. O projeto da associação RH+50, conta com a sabedoria dos mais velhos para ajudar os mais novos a integrarem o mercado de trabalho ou a arriscarem num negócio próprio, apadrinhando-o. O objetivo do projeto é chegar a 50 jovens, envolver 25 mentores com mais de 50 anos e 30 professores e a iniciativa conta com dois parceiros: o Agrupamento de Escolas Amadora Oeste e a fundação norueguesa Mangfold i Arbeidslivet (MiA).

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Ajudar os jovens a entrarem no mercado de trabalho e a criarem o seu próprio emprego. Nesta quarta-feira, é disso que se fala na Fundação Calouste Gulbenkian: de empreendedorismo social e da importância que a sociedade civil tem no combate ao desemprego entre os mais novos.

Para Luís Madureira Pires, coordenador do Cidadania Ativa, programa da fundação que gere os fundos dos EEA Grants para Portugal, as ONG têm um papel a desempenhar junto do setor privado e público para “resolver o problema” do desemprego jovem. Em setembro, 35,2% dos jovens com menos de 25 anos estavam desempregados em Portugal, de acordo com os dados da Eurostat. Nos últimos três anos, os valores têm-se mantido sempre acima dos 35%.

A globalização e o papel ativo dos jovens

Como combater o flagelo? “Essa é a resposta de ‘um milhão de dólares’”, avança Luís Madureira Pires. “Se a soubéssemos, o assunto estava resolvido. É preciso ter consciência de que a globalização foi criar empregos noutros lados e que temos agora o problema de absorção dos jovens qualificados, que começaram, entretanto, a surgir. E isto não é um problema só português, mas em economias mais frágeis, como a nossa, o problema é maior”, acrescenta.

O coordenador do Cidadania Ativa também alerta que os jovens não podem ter um papel passivo nesta matéria, e adianta que e é preciso que intervenham durante o processo. Criar um negócio próprio é uma das formas de intervir e de ter um papel ativo.

Financiados pelos países da EFTA, como Noruega, Islândia e Liechtenstein, os EEA Grants apoiam projetos nos 16 países menos ricos da União Europeia, onde se inclui Portugal. A Fundação Calouste Gulbenkian foi selecionada em dezembro de 2012 para operar os fundos portugueses. Através do Cidadania Ativa, gere 8,7 milhões de euros para apoiar projetos promovidos por ONG, em quatro domínios de atuação, que, além do desemprego juvenil, inclui a participação das organizações na conceção e aplicação de políticas públicas ou a promoção dos Direitos Humanos. Destes, 2,1 milhões destinam-se apoiar a empregabilidade e inclusão dos jovens, através do financiamento de projetos dirigidos a desempregados, pessoas que tenham abandonado a escola ou que estejam num contexto de vulnerabilidade. No último ano, o desemprego jovem, tornou-se a grande prioridade dos EEA Grants.

Para Luís Madureira Pires, o financiamento dos projetos de empreendedorismo social ainda é um problema. O acesso ao microcrédito pode ser difícil e o investimento das capitais e risco é um processo lento

Quais são as principais dificuldades dos jovens que querem empreender? O financiamento dos projetos, diz Luís Madureira Pires, referindo-se ao microcrédito e ao capital de risco. O acesso ao primeiro ainda é “difícil” porque “alguns bancos exigem garantias reais aos jovens”, que não as têm. O segundo traduz-se, de acordo com o coordenador do Cidadania Ativa, num processo “extremamente lento”. “Temos de encontrar alianças, parcerias, que nos permitam agir mais e melhor”, disse ao Observador.

O microcrédito é um mecanismo que se destina a apoiar pessoas que não têm acesso ao crédito bancário normal, como desempregados, jovens à procura do primeiro emprego ou trabalhadores em regime precário, mas que têm uma boa ideia de negócio.

No princípio dos anos 70, Muhammad Yunus, considerado o pai do microcrédito, emprestou 27 dólares a 42 famílias, no Bangladesh, para provar que as pessoas mais desfavorecidas também podiam construir os seus negócios. A experiência do homem que já foi laureado com o prémio Nobel da Paz levou-o a fundar o Grameen Bank, aquele que é considerado “o banco dos pobres”.

O emprego para os mais novos tem sido uma das prioridades da União Europeia, mas Paulo Madureira Pires adianta que é preciso envolver também as empresas e os cidadãos.

Do início de 2014, até 3 de novembro, a Associação Nacional do Direito ao Crédito (ANDC), responsável pela entrada do microcrédito em Portugal, recebeu 1790 candidaturas e creditou 137 projetos, no valor de 1,33 milhões de euros. A estimativa da ANDC é que até ao final do ano a associação receba 2.230 candidaturas. Em 2013, receberam 1689.

Para Edgar Costa, gestor operacional de microcrédito da ANDC, não é difícil chegar a esta forma de financiamento. “Não vejo que haja dificuldades nessa área, mas os negócios sociais têm características diferentes, porque pode ser mais difícil encontrar viabilidade no negócio. Este crédito pressupõe o retorno do montante num curto prazo e o empreendedorismo social pode não gerar fundos que permitam devolver o dinheiro rapidamente”, explicou.

Conferência traz a Portugal especialistas internacionais como a secretária de Estado para os Assuntos Europeus da Noruega, Ingvild Stub, e a coordenadora europeia do EEA Grants, embaixadora Ingrid Schulerud.

O Cidadania Ativa recebeu um reforço de 2,5 milhões de euros, em fevereiro de 2014, para cofinanciar projetos dirigidos a desempregados jovens. São já 21 os projetos com financiamento para o próximo ano e meio. O emprego para os mais novos tem sido uma das prioridades da União Europeia, mas Paulo Madureira Pires adianta que é preciso envolver também as empresas e os cidadãos. “É muito importante que seja uma organização da sociedade civil a agarrar esta problemática em mãos”, afirmou Luís Madureira Pires.

Esta quarta-feira, a Fundação Calouste Gulbenkian, juntamente com os EEA Grants debate o problema do desemprego entre os mais novos na conferência “Emprego Jovem e Empreendedorismo Social: Novos Caminhos” e espera que pelo menos 350 pessoas participem, incluindo ONG, académicos, empresários, bancos, associações de microcrédito e decisores políticos. A conferência traz a Portugal especialistas internacionais como a  secretária de Estado para os Assuntos Europeus da Noruega, Ingvild Stub, e a coordenadora europeia do EEA Grants, embaixadora Ingrid Schulerud.