O número de novos casos de violência doméstica denunciados disparou em 2014 no distrito de Bragança, com um aumento de 32% por cento em relação ao ano passado, divulgou nesta terça-feira o Núcleo (distrital) de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica. “A dimensão do agravamento é brutal, estamos a falar de um aumento de 32 por cento em relação a 2013, no distrito de Bragança, temos 182 vítimas sinalizadas, novos casos, não são os que transitam de um ano para o outro”, indicou Teresa Fernandes, psicóloga do núcleo, realçando que “2014 tem sido um ano negro em diversos aspetos”.

Em Portugal, mais de 30 mulheres morreram às mãos de companheiros ou ex-companheiros e as estatísticas do observatório nacional de mulheres assassinadas revelam uma vítima mortal nesta região que, “desde 2006”, não registava um caso desta gravidade extrema, de acordo ainda com a técnica.

Os dados e a problemática estão a ser debates desde hoje, e durante dois dias em Bragança, nas primeiras jornadas ibéricas sobre Violência Doméstica, promovidas pela Associação dos Socorros Mútuos e Artistas de Bragança (ASMAB), entidade que acolhe o núcleo de apoio às vítimas.

De acordo com a técnica Teresa Fernandes, há, nesta região, “novos casos de violência em famílias onde antes nunca tinha havido situações de violência seja física, seja psicológica” e que “fruto da crise financeira, da crise social, da crise familiar, hoje funcionam desadequadamente e de uma forma não saudável nesta base da violência”. Os casos extremos são os mais visíveis, mas os técnicos lidam também com o lado mais encoberto de “casos de violência grave em escala que envolve não só as mulheres, mas também filhos e idosos”.

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“Temos muitos idosos a viver atualmente em casa de agregados familiares como forma de sustento da economia doméstica e que são afetados por esta violência dirigida no seio familiar”, apontou, realçando que muitos destes idosos “nunca foram vítimas de violência doméstica na conjugalidade e que o são agora, de violência perpetrada por filhos, filhas, noras, genros e netos”.

A ASMAB tem há vários anos um projeto para a construção de uma Casa Abrigo para vítimas de violência doméstica que, segundo adiantou hoje o presidente, deverá iniciar-se em 2015 e estar a funcionar dentro de dois anos. O projeto tem um custo de 800 mil euros, com uma comparticipação garantida até 75 por cento e vai criar 30 vagas, numa região onde existe apenas um equipamento do género, a Casa Abrigo da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, com cinco vagas disponíveis.

As jornadas ibéricas que decorrem em Bragança reúnem vários parceiros, entre os quais a Rede Europeia Anti Pobreza (EAPN), cujo representante em Portugal, o padre Agostinho Jardim Moreira classificou a violência como “o maior fator de pobreza, pior do que não ter comida”. “Tudo que é contra a vida, que destrói a vida, é o maior fator de pobreza. Se a pessoa humana é atingida nos seus direitos, na sua dignidade, na sua liberdade, ela está a ser gravemente empobrecida na sua pessoa”, acentuou.