O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio defendeu hoje um entendimento, promovido pelo Presidente da República, entre PSD, PS e a sociedade, para uma reforma da Justiça “com vetores muito definidos” que contribua para “revitalizar a democracia”.

As posições do antigo secretário-geral e deputado do PSD foram assumidas durante a apresentação da sua biografia, “Rui Rio, de corpo inteiro”, de Mário Jorge Carvalho, num centro comercial em Lisboa.

Na sessão de apresentação da obra, que coube ao social-democrata Nuno Morais Sarmento, marcaram presença figuras do PSD como o eurodeputado e ex-candidato à liderança do partido, Paulo Rangel, o ex-ministro e antigo dirigente social-democrata José Luís Arnaut e deputados como José Matos Correia, Paulo Mota Pinto, Afonso Oliveira e Virgílio Macedo, este também líder da distrital do Porto.

Na parte final de uma intervenção de mais de meia hora e em que criticou o estado do regime e a atual “fraqueza do poder político”, Rui Rio considerou que Portugal precisa de uma “reforma da Justiça com vetores muito bem definidos”.

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“Para isto se poder fazer tem de haver naturalmente um entendimento entre os dois maiores partidos, a sociedade e a própria Presidência da República, não sei mesmo se não tem de partir da própria Presidência da República chamar os partidos e a sociedade a este debate”, afirmou.

Para Rui Rio, os problemas do sistema de Justiça não estão apenas na sua lentidão, mas na “própria separação de poderes”: “Quando um ministro não consegue perante um juiz da comarca encerrar uma maternidade é evidente que temos aqui uma confusão na separação de poderes”.

Antes, o antigo dirigente e deputado do PSD reiterou críticas à “permanente violação do Segredo de Justiça”, referindo-se implicitamente ao caso que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates.

“Chamar a comunicação social para filmar o espetáculo e passar as peças em Segredo de Justiça para ir alimentando o próprio espetáculo mediático é promover o julgamento popular e isso, para mim, é pura e simplesmente dar um pontapé na democracia e nos direito humanos, seja com quem for”, considerou.

Rui Rio sublinhou que o poder político “está “enfraquecido” face aos “poderes fáticos” e económicos e defendeu “uma rutura no regime” para evitar “uma evolução para uma democracia cada vez mais fraca e menos democracia”.

“Não basta haver eleições para dizer que há democracia, no quadro atual, aqueles em que votamos para defender o interesse público não têm hoje a força necessária para o impor aos interesses corporativos e setoriais”, declarou.

Rui Rio defendeu ainda que é preciso “ser incorreto nas perguntas”, questionando o estado atual do regime político em comparação com a ditadura salazarista.

“O que eu ouvia quando era pequeno era que era o poder económico que mandava no poder político, o que eu pergunto é se o poder económico mandava mais naquela altura ou hoje (…), a Justiça garantia melhor os direitos dos cidadãos antes da democracia ou hoje? Isto não tem nada a ver com a política, tem a ver com os direitos dos cidadãos”, afirmou.

No seu discurso, Rui Rio apontou ainda a reforma do financiamento partidário e o combate à desorçamentação e ao perdão fiscal aos clubes de futebol (totonegócio) como as atividades mais marcantes na sua função como deputado à Assembleia da República, até 2002.