Quando o produtor Hugo Nóbrega estava a delinear a programação deste ano do Famous Humour Fest, decidiu ligar a Nuno Artur Silva para lhe pedir que organizasse uma noite de Produções Fictícias. Em vez de aceitar, o apresentador do programa “Eixo do Mal” fez-lhe outra proposta: “E se eu fizesse um solo?”. Do outro lado da linha houve uma longa pausa. E a resposta foi: “A sério?”.

O espetáculo “Nuno Artur Silva. A sério?” ganhou forma e teve uma única apresentação em setembro, no festival de humor Famous Humour Fest, em Lisboa. Só não foi um solo porque o protagonista convidou a banda Dead Combo e o artista António Jorge Gonçalves para o acompanharem em palco, disse esta quarta-feira aos jornalistas, sobre os espetáculos que vai apresentar, entre 7 e 10 de janeiro, no Teatro-Estúdio Mário Viegas, agora integrado no Teatro S. Luiz, em Lisboa.

A vida de Nuno Artur Silva e “que raio de ideia foi esta de criar o espetáculo” é a primeira de sete partes que compõem o texto. Logo a seguir, disserta-se sobre as conversas das outras pessoas e de que é que elas falam. Na terceira parte, o autor fala sobre “esta coisa de chegar aos 50 anos, estranha para quem trabalha com malta de 20 e tal anos”. O dinheiro, a vida de artista e de como “somos todos artistas de variedades”, o humor num país de fadistas, “o que é isso de Portugal” completam os cerca de 60 minutos de duração do espetáculo.

Enquanto o comediante de serviço disserta sobre os sete temas, o artista e amigo António Jorge Gonçalves vai estar ali ao lado a fazer uma performance visual. “O António reflete em imagem o que vai na minha cabeça, os esquemas, as ideias”, explicou Nuno Artur Silva. Quanto aos Dead Combo, vão estar ali “para o caso de isto correr mal”, brincou. “Aí eu digo: ‘Senhoras e senhores, Dead Combo! Eles vão ser a minha Gisele Bündchen“.

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“É um luxo poder tê-los ao meu lado”, disse Nuno Artur Silva. ©Fábio Pinto

Os convites a António Jorge Gonçalves e aos Dead Combo foram em parte motivados por algum receio de subir sozinho ao palco. “Por um lado não queria fazer disto uma coisa de stand up pura e dura, porque eu não sou um comediante”, contou ao Observador. “Mas depois é o prazer que eu tenho de trabalhar com pessoas de diferentes áreas e de me sentir um bocadinho a fazer ‘free jazz’ aqui”. A comparação com o “free jazz”, género onde impera a liberdade de improvisação musical total, é feita no sentido em que Nuno Artur Silva não sabe o é que é que os Dead Combo vão tocar. “Cada um de nós vai estar com uma partitura – que existe e está estabelecida – mas podemos improvisar um bocadinho”, explicou. Em setembro, por exemplo, os Dead Combo tocaram a “My Way”, de Frank Sinatra.

Tem a certeza? Não sei… Veja lá a imagem, já é diretor“. Eram estas as reações mais comuns que Nuno Artur Silva recebia quando contava a ideia de se meter num palco a contar um texto humorístico diante de uma plateia. Foi António Jorge Gonçalves quem lhe deu o maior incentivo. “Acho que o Nuno podia fazer isto sem nós”, confidenciou o artista, que vai trabalhar quase em improvisação total durante o espetáculo. “Sabemos que estamos lá para carregar o andor”. Uma ideia que Nuno rejeita: “Não era a mesma coisa”. Já quando foi feito o convite aos Dead Combo, a reação foi contada por Tó Trips, que com Pedro Gonçalves forma os Dead Combo. “Mas isso é o quê, man?”

Com 52 anos feitos em outubro, a meia-idade é um dos temas abordados. Há uma parte no espetáculo em que Nuno brinca com a fase em que um artista já é convidado para o Salão Preto e Prata do Casino Estoril. Curiosamente, os Dead Combo receberam esse convite a 7 de novembro, no âmbito da cerimónia de abertura do Lisbon & Estoril Film Festival, onde atuaram para nomes como John Malkovich e Willem Dafoe. Sobre a passagem do tempo, Tó Trips disse sem rodeios: “Eu acho que é uma treta envelhecer”. O espetáculo “A Sério?” foi também uma chapada no estatuto. “Não queria ser outra vez o escolhido para programar uma noite no Famous Humor Fest. Não estou pronto para ir para o Salão Preto e Prata”, disse Nuno Artur Silva.

© Fábio Pinto

Nuno Artur Silva fundou as Produções Fictícias e o Canal Q. É autor, editor, diretor criativo, produtor, apresentador, agente, empresário, mentor. Em 2012, comissariou a exposição “Riso”, no Museu da Eletricidade, em Lisboa. Mas há um programa que suga o protagonismo a todos os outros. “Eu agora sou só o gajo do Eixo”, disse, sobre o programa que coordena e apresenta semanalmente no canal por cabo SIC Notícias. “Tem a ver com o poder esmagador que a televisão ainda tem”, explicou.

“O Eixo do Mal é uma área mais lateral do meu trabalho principal”, disse sobre o programa que lhe dá mais visibilidade atualmente. “Mas o centro do meu trabalho tem mais a ver com o que vou fazer agora, que é fazer textos para áreas diversas, que vão desde o teatro à televisão e ao cinema”. O espetáculo é um prolongamento de 20 anos de trabalho na comédia. Também fez comédia ao vivo há cerca de 25 anos. “Não era bem stand up, era assim um café-teatro, umas coisas. E isto é um pouco regressar ao lugar onde fui feliz, digamos assim”.

Até ao momento só existem as datas no Teatro Mário Viegas, mas a sala com capacidade para cerca de uma centena de pessoas deverá esgotar. Questionado sobre a possibilidade de continuar com o espetáculo, Nuno Artur Silva não escondeu o entusiasmo. “Eu acho que era fixe!”, disse. O único problema vai ser conciliar as três agendas dos quatro artistas. “Mas a ideia é continuar. Claro que sim”.