A Wikileaks divulgou este domingo mais documentos classificados como secretos pela CIA, neste caso guias práticos para os agentes secretos norte-americanos manterem o seu disfarce quanto se tentam infiltrar em países da União Europeia e do espaço Schengen, passando as verificações de segurança dos aeroportos.

“A CIA realizou uma série de sequestros de cidadãos oriundos de países da União Europeia, incluindo da Itália e da Suécia, durante a Administração de Bush. Estes manuais provam que, sob a Administração de Obama, a CIA continua com intenções de se infiltrar nas fronteiras da União Europeia e conduzir operações clandestinas em Estados-membros da UE”, garantiu o líder da Wikileaks, Julian Assange.

Num dos manuais divulgados – intitulado “Sobreviver ao Segundo Interrogatório” – a CIA explica aos agentes secretos como devem ultrapassar os desafios causados pelas perguntas das autoridades que controlam as fronteiras e como manterem o seu disfarce. O essencial, escreveu a CIA a 21 de setembro de 2011, é ter ” um disfarce consistente, muito bem ensaiado e plausível”, pode ler-se no guia, que contém, ainda, vários detalhes sobre os métodos utilizados nos diferentes aeroportos dos países-membros.

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Fonte: Wikileaks. O documento pode ser consultado em anexo à notícia.

“Os viajantes devem-se assegurar, também, que, antes de viajarem, tudo o que trazem com eles deve ser consistente com o disfarce – os passaportes, a história da viagem, a bagagem, os aparelhos eletrónicos, o lixo que têm nos bolsos, as reservas de hotel, o registo nas redes sociais“, sob o risco de os funcionários do aeroporto os considerarem suspeitos, avisa a agência de inteligência norte-americana.

CIA ensina espiões como se infiltrar em Portugal

O aeroporto da Portela, em Lisboa, figura naturalmente na lista: os agentes secretos que se pretendem infiltrar em Portugal devem saber que o segundo interrogatório é um procedimento comum quando a origem dos passageiros é Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique e países do ocidente africano. Por isso, e caso o falso perfil do agente faça referência a estes países, os agentes da CIA são treinados para responderem corretamente às perguntas das autoridades portuguesas.

A CIA fez, também, uma lista de comportamentos suspeitos que podem valer aos espiões – ou como a CIA os designa no documento, “viajantes dos Estados Unidos não-identificados” – um segundo interrogatório. Os agentes são instruídos a não permitirem que exista uma “pausa significativa” entre o momento em que foi feita a questão e o momento da resposta, a não usarem sons que atrasam a resposta, como ‘ah’ ou ‘hum’, e a não apresentarem sinais evidentes de nervosismo – como engolir em seco, morder o lábio, transpirar, respirar profundamente ou ajustar a roupa frequentemente.

O Manual da CIA que ensina os espiões a infiltrarem-se no espaço Schengen

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Fonte: Wikileaks. Documento pode ser consultado na íntegra em anexo.

O segundo documento, um guia para os espiões norte-americanos que procuram entrar em países do espaço Schengen, explica os vários sistemas eletrónicos de identificação de passageiros utilizados pelos diferentes aeroportos e os riscos que representam para os disfarces dos agentes secretos.

O Sistema Europeu de Informação sobre Vistos (VIS) – uma base de dados criada para permitir uma troca rápida dos dados relativos aos vistos de curta duração entre os países Schengen e que contém informações e dados biométricos dos passageiros (incluindo as impressões digitais) – é uma das maiores preocupações da agência de inteligência norte-americana, que teme que os seus agentes fiquem demasiado expostos – é que o novo sistema tecnológico põe em risco as identidades falsas criadas pelos espiões.

Estes manuais agora divulgados são apenas a ponta do icebergue: a Wikileaks vai continuar a disponibilizar documentos secretos da agência de inteligência norte-americana ao longo do próximo ano, pelo que se esperam novas revelações sobre os métodos utilizados pela CIA.

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