Pizzi é um caso sério. Um rapaz, hoje com 25 anos, formado no Bragança que deu nas vistas e mereceu a contratação do Sp. Braga, é o motor do novo Benfica. Novo porque perdeu Enzo para sempre, Gaitán por alguns tempos e, até ver, Salvio, que está sem gás. Pizzi era visto como um extremo com algum talento, mas ninguém sonharia que chegaria a este nível (certo?). Hoje toca, vai, aparece, arruma a casa, acelera, segura e remata. Esta noite até imitou Paul Gascoigne contra a Escócia no Euro-96, lembra-se? A bola do português, de fora da área, saiu por cima, mas teve muita pinta. Luís Mateus, jornalista do Mais Futebol, disse bem na véspera: “discute-se Cristante ou Almeida, e não Pizzi ou Talisca.” E esta é a grande vitória de Pizzi. E de Jesus…

O Benfica venceu em Moreira de Cónegos por 3-1, mas há muito por dizer. Infelizmente, há coisas negativas para refletir. Por onde começar sobre aqueles cinco minutos fatídicos? Numa altura em que o competente e organizado Moreirense estava em vantagem, Salvio parece simular um penálti. O argentino não viu um amarelo, mas ganhou um canto. Inexistente. Pizzi bateu o canto e Luisão empatou o jogo. A seguir, André Simões, que vinha a fazer um grande jogo, numa correria desenfreada e guerreira, recebeu o vermelho direto por palavras. O que terá dito o médio? É que sabe-se muito bem o que se diz em todos os jogos, tantas e tantas vezes. Não é bonito. O que terá sido tão grave para merecer um vermelho direto por palavras? Isto costuma ver-se nos jogos dos garotos para os educar. Fica a curiosidade. A equipa da casa nunca mais seria a mesma.

MOREIRENSE: Marafona, Pedro Coronas, Anilton, Danielson, Elízio, André Simões, Battaglia, Diogo Cunha, João Pedro, Alex, Arsénio.

BENFICA: Artur, Maxi, Luisão, Jardel, Eliseu, Salvio, André Almeida, Pizzi, Ola John, Lima, Jonas

Pizzi está na moda, mas até foi o primeiro a ficar mal na fotografia quando perdeu a bola e permitiu um ataque rápido dos homens da casa: Alex rematou cruzado, ao lado da baliza de Artur. A partir daqui (3′) seriam 15, 20 minutos avassaladores das águias. Aos 13′ Jonas chutou ao poste. Jogada de quem? Ora essa, Pizzi, pela direita. Aos 25′ aconteceu o tal lance de Pizzi à Gascoigne, mas a bola rematada com a canhota saiu por cima.

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O Moreirense começou a partida como um menino assustado numa noite de trovoada. Como se estivesse debaixo da cama, esperando que tudo passasse. Mas essa atitude mudaria à passagem da meia hora e os homens de Miguel Leal começariam a criar mais problemas. Começou a apreciar os efeitos da trovoada lá fora, pela janela, e largou a inibição. Nem é que tenha começado a atacar muito, mas equilibrou a batalha do meio-campo e deixou de ser empurrado com tanta força para trás. E o golo chegou… Na única jogada da primeira parte.

André Almeida, aos 36′, perdeu a bola para Battaglia e este lançou Arsénio na esquerda. Tal como havia passado na primeira volta, o médio ex-Belenenses ofereceu a João Pedro o primeiro golo da noite. Na primeira volta João Pedro encostou ao segundo poste, desta vez recebeu fora da área e tentou colocar, mas viu um desvio de Jardel ser crucial, 1-0. Quem estava muito bem era Marafona, um guarda-redes formado a meias entre Varzim e Rio Ave.

Intervalo em Moreira de Cónegos. Depois de Chelsea empatar em casa, Barcelona ter perdido em Camp Nou contra o Málaga e o Manchester ter vacilado contra o Swansea, o Benfica prometia ser a surpresa seguinte. As dimensões do campo não ajudavam, mas os visitantes estavam com muitos problemas, até porque Pizzi e, principalmente, André Almeida insistiam nas bolas nas costas da defesa. Não havia espaço. Já Ola John, que parece ser a nova teimosia de Jesus (okay, até Gaitán voltar), estava a ser uma nulidade. Outra vez.

A segunda parte começou na mesma toada: equilíbrio e muitos problemas para o Benfica encontrar espaço. Derley, Gonçalo Guedes e Talisca começaram a aquecer cedo. Seria preciso mudar algumas coisas. Mas o tsunami chegaria aos 57′ depois daqueles episódios que o Observador já relatou: primeiro foi Luisão a empatar de canto, depois foi André Simões a ver o vermelho direto aos 60′. Miguel Leal, normalmente um treinador super-correto, e Jorge Jesus foram também eles expulsos, por entrarem no relvado. O jogo nunca mais seria o mesmo. O Moreirense perdeu o GPS e adivinhava-se a vitória do Benfica…

E o golo da reviravolta chegou aos 64′, por Eliseu. Pizzi bateu o canto e a bola sobrou para o lateral esquerdo, fora da área. Eliseu tentou com o pé direito e foi feliz, 2-1. Marafona ficou mal na pintura, mas a favor dele pode referir-se que não terá visto a bola partir. A seguir foi Jonas, aos 72′, a fazer o que tanto gosta. O avançado brasileiro estacionou ao segundo poste e esperou um cruzamento da direita para encostar, 3-1. A vida ficaria fácil para o Benfica. A alma, coragem, acerto e organização do Moreirense abandonou o relvado quando André Simões o fez. E o jogo ficou a perder.

Pouco ou nada se passou até final. Talisca, que entrou aos 77′ por Ola John, ainda tentou assustar de longe (82′). A bola passou muito perto do poste. Gonçalo Guedes voltou a ser opção: entrou aos 87′, por Pizzi, porventura o melhor dos encarnados. Apito final em Moreira de Cónegos. Benfica solidifica a liderança, com 56 pontos em 22 jogos (18 vitórias, 2 empates, 2 derrotas — 51 golos marcados, 10 sofridos).