As rádios locais são um “elo” dos emigrantes à terra natal, mais importante em tempos de crescimento de emigração, e devem encarar a internet não como uma “ameaça” mas um “complemento”, defendeu a investigadora Ana Isabel Reis. A investigadora é uma das autoras do livro “Das piratas à Internet: 25 anos de rádios locais”, hoje apresentado na Universidade do Minho, assinado ainda por Fábio Ribeiro e Pedro Portela e definido como um “exercício de memória para projetar o futuro”.

Naquela publicação, os investigadores defendem a importância das rádios locais para a “pluralidade” de opiniões e para fazerem uma “adaptação local” dos acontecimentos nacionais e internacionais, tal como tiveram no passado as rádios piratas. Admitem, contudo, que “não há espaço” para “as piratas” nos dias de hoje.

“A vantagem para a rádio local em estar na internet é que mantém o elo de ligação sobretudo com as comunidades migrantes e agora que a emigração voltou a crescer. Nós emigramos e conseguimos ouvir a rádio na nossa região que antes não ouvíamos e agora ouvimos porque estamos longe e é o elo de ligação”, apontou Ana Isabel Reis. Por isso, defendeu, “a web não é uma ameaça, poderá ser um desafio, mas é sobretudo um complemento”.

Segundo Pedro Portela, o “desafio da rádio local continua a ser o de evitar a tentação de não falar para os seus, falar a comunidades, permitir que as comunidades intervenham na espera pública”. Para aquele investigador, as rádios locais assumem ainda um papel importante na descodificação de acontecimentos e na ligação destes às comunidades locais.

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“Sabemos que nos media nacionais são sempre os mesmos cromos a rodar, de forma que a pluralidade que pode vir de uma rádio local tem todo o interesse. Perceberemos que os rostos e as vozes podem ser de outros, como também a perspetivas locais sobre fenómenos nacionais e internacionais”, sustentou. “As movimentações sociais, culturais, o que quer que seja, que acontecem por todo o mundo têm sempre que ter uma adaptação local e esse papel continua a ter que ser exercido pelos órgãos locais”, explanou Portela.

O referido livro reconhece o papel das rádios piratas na década de 80, antes da legislação que deu origem às rádios locais que viriam a substituir “as piratas”, mas os autores não acreditam que nos dias de hoje uma rádio pirata “tenha espaço” no panorama informativo e social, e que tenham sido substituídas pelas rádios web.

“Apesar de as rádios piratas serem, quase todas, estruturas amadoras, as rádios web, a maior arte delas é serem muito mais amadoras do que eram as rádios piratas. Há outros fenómenos na internet que, se calhar, têm mais semelhanças com o que eram as rádios piratas, até coisas tão simples como blogues, ou agregadores de opiniões não necessariamente por via sonora”, explicou Pedro Portela.

Já Isabel Reis apontou o contexto “único e irrepetível” das rádios piratas. “Houve um contexto económico, social e político de cidadania internacional, que foi único e não se voltará a repetir. Hoje em dia, não há espaço para [rádios] piratas”, concluiu.