“Uma luta na lama”. É assim que a direção do PS classifica o atual estado da discussão em torno de uma dívida fiscal prescrita de Passos Coelho à Segurança Social e que motivou uma troca de acusações que chegou ao Estabelecimento Prisional de Évora, onde se encontra detido o ex-primeiro-ministro, José Sócrates.

Fernando Medina, vice-presidente da Câmara de Lisboa e dirigente do PS, declarou esta quinta-feira na SICN que Passos “escolheu fazer a luta na lama” por, ao defender-se, insinuar que os socialistas estão por detrás das notícias sobre alegadas dívidas (por estarem “desesperados” com as sondagens) e por envolver Sócrates na discussão.

Passos Coelho declarara na terça-feira que nunca usou o seu cargo “para enriquecer”, defendendo-se das acusações de “evasão contributiva” do PS com um discurso ao ataque.

“Acho inadmissível porque não pode violar a presunção de inocência”, considerou o eurodeputado Francisco Assis na TVI24 em relação ao ataque de Passos, dizendo ser claro que a única interpretação possível era a de que queria falar de Sócrates. E acusou ainda Passos de “desonestidade” por insinuar que a origem das notícias sobre Passos tem a ver com as sondagens que dão um score do PS aquém das expetativas.

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O líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, declarou compreender a “indignação” do ex-primeiro-ministro, José Sócrates, que a partir da prisão de Évora mandou uma carta ao DN/JN/TSF em que acusa Passos de estar “próximo da miséria moral”, mas alguns socialistas viram a carta de Sócrates também como uma pressão sobre o próprio Costa para intervir e para o defender, já que Passos chamou ao debate político um caso de justiça (e que foi sempre assim encarado pela direção do PS).

Mas os socráticos contactados pelo Observador não veem assim a intervenção de Sócrates, considerando ser apenas destinada a Passos. O primeiro-ministro fez um “ataque cobarde” a “quem não se pode defender”, reage o deputado do PS Paulo Campos, ao Observador. “Revejo-me inteiramente no que o engenheiro José Sócrates” escreveu na carta enviada a partir do Estabelecimento Prisional de Évora. Como Passos Coelho não tinha resposta” para as críticas que lhe têm sido apontadas por não ter pago as contribuições à Segurança Social, “usou de forma cobarde uma pessoa que não se pode defender”, insiste Paulo Campos, para depois acrescentar que sentia “indignado” com as palavras do social-democrata.

Já Fernando Serrasqueiro diz que Sócrates fez bem em responder porque “toda a comunicação social entendeu que as críticas de Passos eram para ele”, ou seja, a referência a pessoa que “enriqueceram no cargo”. E que “se sabe defender bem”.

Silêncio polémico de Costa

Costa recusou comentar na quarta-feira as palavras de Passos e a dívida já prescrita à Segurança Social, num registo que criou muita polémica pois o secretário-geral acusou os jornalistas da SIC de o perseguirem e de saírem “de trás de um carro” para o interrogarem no meio da rua.

No PS, porém, várias pessoas vieram em defesa de Costa dado o estado de discussão na praça pública. Assis declarou ter “registado com agrado o silêncio do secretário-geral”. As questões colocadas pelos partidos da oposição (PS, PCP e BE) por escrito ao primeiro-ministro serão “respondidas” e “os portugueses tirarão ilações”, declarou. “Acho bem que se reserve. Não pode entrar em todas as quezílias”, afirmou ao Observador o deputado Fernando Serrasqueiro.

Mais ácido, o líder parlamentar, Ferro Rodrigues, afirmou esta quinta-feira que não pode haver “esperas” feitas por jornalistas. “O dr. António Costa faz bem em querer que haja regras para a interpelação dos jornalistas. Não pode aparecer uma pessoa atrás de um carro”, criticou, num dia que ficou marcado pela carta escrita por Sócrates a partir da prisão de Évora, acusando Passos de “miséria moral”.

Preocupação no PSD

No PSD, os principais dirigentes vieram defender Passos. Mas, mesmo na direção social-democrata, há a consciência que este caso da Segurança Social tem o risco de criar na opinião pública a ideia de que “os políticos são todos iguais” e que terá sido isso a motivar a reação de Passos na terça-feira.

Numa altura em que os partidos esperam com alguma ansiedade os resultados das sondagens, essa é uma conversa frequente nos bastidores: qual o impacto desta polémica na intenção de voto das pessoas.

Por outro lado, o facto de Passos já ter garantido (através do líder parlamentar) que iria responder a todas as perguntas que os partidos da oposição lhe enviaram deixou mais sossegados alguns sociais-democratas que consideravam que o primeiro-ministro tinha mais a ganhar em esclarecer todas as questões sobre a dívida prescrita à Segurança Social do que em dizer, como disse, “que a verdade já estava toda contada” e que não havia mais nada a “acrescentar”.