Há palavras que custam a sair da caneta para o papel: umas vezes por falta de inspiração, outras por falta de jeito e, quase sempre, por existirem outras formas — mais fáceis e imediatas –, de fazer chegar determinada mensagem.

Hoje em dia, escrever uma carta não é um gesto desfasado do tempo, é enviar um envelope onde está implícito — “De: alguém que se preocupa; Para: alguém especial que vai ficar feliz por saber disso”. É também treinar o cérebro e usufruir de uma série de benefícios físicos e mentais, como indicam dois estudos publicados no The Wall Street Journal: “How Handwriting Trains the Brain” e “In Digital Age, Does Handwriting Still Matter?”.

E sim, em plena era dos e-mails e sms, ainda há quem as envie. Os smartphones não mataram as cartas nem os bilhetes — pelo contrário, ajudaram-nas a adaptarem-se aos novos tempos, através de aplicações que ajudam a construir narrativas. Nesta missão de ajudar as palavras manuscritas a sobreviver às “tecladas”, há também contadores de histórias que não se importam de emprestar a imaginação para dar forma às ideias de quem os procura.

Vamos mostrar-lhe algumas ferramentas a que pode recorrer:

O que te quero dizer

Não há nada que André mais goste de fazer do que escrever. Por isso, decidiu sentar-se à máquina de escrever, à antiga, para pôr no papel o que outras pessoas sentem e querem dizer. Todas as cartas que escreve são cartas de amor: para namorados, amigos e familiares.

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Como funciona? Há dois modos. Para receber uma carta, pode encontrar o escritor algures numa livraria, numa feira ou na rua. Depois, basta sentar-se à frente dele e em 15 minutos — e sem qualquer troca de palavras –, o André escreve “o que lhe quer dizer” na máquina de escrever. Por fim, coloca a carta num envelope, identifica o remetente e o destinatário, carimba-o e entrega-o à pessoa. O custo, por carta, é de 7€.

Há também a variação “de longe”, em que pode entrar em contacto com o escritor por Facebook ou por e-mail. Neste caso, os clientes apenas precisam de informá-lo sobre o que querem transmitir a determinada pessoa, e o autor transforma esses tópicos numa carta escrita com as suas palavras: uma carta “escrita por André, sentida por si”. As “cartas de longe” chegam também por correio ao destinatário e têm o custo de 9€.

Cartas de Sapana

Este é outro projeto em que a escritora desenvolve, a partir de casa, histórias de outras pessoas. O serviço é simples: o pedido é feito através da página do Facebook ou por e-mail. A autora precisa apenas de saber para quem é a carta, qual o motivo do pedido e três momentos marcantes da relação entre o remetente e o destinatário. Depois a carta é escrita, impressa e enviada por correio. Patrícia Cardoso, a criadora destas cartas, partilhou com o Observador um dos pedidos que mais a marcou: “uma avó pediu-me para escrever uma carta para o seu neto de 18 meses. A carta será para ele ler quando for maior. O objetivo é dizer ao neto o quanto ele foi amado, é amado, e sempre será, ainda que a avó já não esteja presente”.Cada carta de Sapana custa 15€.

2 fotos

Inkly

Nesta aplicação gratuita e disponível para os sistemas iOS e Android, basta escolher o design de um dos muitos cartões disponíveis e escrever a mensagem num papel comum, com uma caneta. A seguir, é necessário que tire uma fotografia a essa folha com o recado e faça o upload. A aplicação trata do resto: combina o cartão escolhido com a mensagem escrita, imprime-o e envia-o.

Handwrytten

Na Handwrytten, outra opção para iOS e Android, há um robô escritor a facilitar-lhe a tarefa. Veja como neste vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=uyXlChb7-HI

Handiemail

“Numa época em que os e-mails, as mensagens de telemóvel e os media lideram, acreditamos que o envio de mensagens escritas à mão é mais importantes do que nunca, quer profissionalmente, quer pessoalmente.” Esta é a premissa que levou Kyle Eertmoed a criar o Handiemail. Neste serviço, a carta é também enviada de forma digital para o escritor e, depois, segue por correio.

Eis a explicação:

Ainda se lembra quando escreveu a última carta? Está na altura de voltar à caneta e ao papel.