Paulo Rangel considera que Maria Luís Albuquerque devia ter falado após a primeira reunião do Eurogrupo com Varoufakis e que a mensagem devia ter sido clara: “a Grécia deve cumprir aquilo que ficou acordado, mas nós estamos totalmente disponíveis para a ajudar a Grécia”. No entanto, o eurodeputado diz que apesar de haver acordo entre os 19 países da zona euro, o trabalho técnico “está muito difícil” – um indicador que faz com que, para já, Rangel não exclua uma possível saída da Grécia da moeda única.

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“Digamos que nos corredores nos bastidores, as pessoas informadas apontam para que há uma grande impreparação técnica do governo grego, o que aliás não é de surpreender porque as pessoas não tinham grande experiência. Já antes a preparação técnica que às vezes aparecia da Grécia não era muito fiável, agora é ainda menos e portanto está a causar alguma preocupação”, assume o eurodeputado em entrevista ao Observador. Eleito pelo PSD num segundo mandato em 2014, Paulo Rangel é também vice-presidente do grupo político do Partido Popular Europeu no Parlamento Europeu.

Rangel justifica que o Governo de Atenas está a ser bem-sucedido num ponto: a propaganda. “O governo grego fez uma grande operação de relações publicas, muito bem-sucedida, em especial por essa rising star do jet set internacional que é o ministro Varoufakis, mas que de facto não foi ainda capaz de apresentar propostas”, afirma o social-democrata que é muito crítico em relação ao Executivo liderado por Tsipras, dizendo que não se pode “esperar grandes coisas deste Governo”, nem permitir que “ele se vitimize”.

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No entanto, Rangel alerta para o facto de o Governo grego ter sido democraticamente eleito e comandar um Estado soberano. “Trata-se de um governo com toda a legitimidade, e é do interesse da Europa que se eles estão realmente disponíveis para fazer um acordo, como estiveram, que cumpre as regras básicas essenciais, então eles devem ser ajudados nessa tarefa”, e esta, para Rangel, deveria ter sido a narrativa do Governo português logo após a primeira reunião do Eurogrupo.

“Eu acho que o governo português devia ter feito uma declaração, como fez aliás o espanhol, e tenho pena que não tenha feito nessa altura, e devia sempre fazer e sempre com o mesmo conteúdo, que é: a Grécia deve cumprir aquilo que ficou acordado mas nós estamos totalmente disponíveis para a ajudar a Grécia”

Uma nova troika a caminho

Sobre a possibilidade da exclusão do FMI da troika e do desenho dos planos de ajustamento daqui para a frente, Paulo Rangel espera desde logo “que não haja resgates a toda a hora”. “Eu sinceramente aquilo que estimo é que nós sejamos capazes de desenhar aqui uma linha política que nos dispense os resgates. A ideia é que nós possamos construir políticas económicas, financeiras e monetárias que nos dispensem da necessidade de resgates de Estados”, afirma o eurodeputado, admitindo que o modelo da troika [Comissão+BCE+FMI] tinha “a vantagem de fazer negociações em pacote”. Mas ao mesmo tempo apresentava fragilidades: “Obrigava que no dia dia houvesse um diálogo com técnicos que tinham um mandato técnico e não tinham autoridade política para decidir”.

“O modelo da troika não era um modelo muito eficaz”

Segundo o eurodeputado social-democrata, “o caminho natural será para um modelo de uma troika europeia” – Um novo modelo, defendido por alguns em Bruxelas, incluindo o presidente da comissão Jean-Claude Juncker. Mas para Rangel é importante associar estas mudanças a outros “avanços”. “Aqui o ideal é até nós avançarmos para alguma capacidade orçamental europeia, para a criação de um fundo monetário europeu”, defende o eurodeputado.

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Mas para haver fundo monetário europeu, segundo Rangel é preciso confiança. “Agora para haver esta evolução e até a evolução um dia para eurobonds, que não estão de maneira nenhuma excluídos, é preciso reganhar ou recriar um clima de confiança entre os Estados Europeus”, afirma o eurodeputado, defendendo que “essa confiança desfez-se por razões que são imputáveis a todos, não são apenas razões dos países do Sul, os países do norte têm aqui responsabilidades”.

No entanto, o eurodeputado admite que num ano com tantas eleições na Europa a “radicalização política” pode “realmente minar a confiança”. Rangel antevê a possibilidade de uma mapa onde “a extrema-esquerda ou a esquerda radical terá grande influência no Sul” e, por contraposição, a direita radical no Norte da Europa.

Pode ver a entrevista na íntegra aqui.

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