Numa entrevista à revista Marie Claire americana, James C. Marotta, cirurgião plástico e especialista em tratamentos de pele, explicou que não limpar o rosto é praticamente o mesmo que assassinar a pele e colocar-lhe um rótulo de validade em cima. Isto é ainda mais grave porque significa que a greve de limpeza pode causar despigmentação, secura, vermelhidão, acne e, claro está, um aprofundamento e aceleramento das rugas. Vale a pena acrescentar que, ao dormir com maquilhagem, estamos a aumentar a exposição da nossa pele aos radicais livres que a maquilhagem atrai durante o dia e isto leva à degradação do colagénio e, em consequência, ao envelhecimento precoce.

Os números assustam

Um estudo realizado pela marca L’Oréal Paris concluiu que, na Europa, 82% das mulheres faz uma limpeza diária de pele. Em Portugal, falamos de 47% de portuguesas. Não parece tão dramático, pois não? Mas se analisarmos a fundo, a realidade é outra: 37% das portuguesas limpa o rosto com gel de banho, 24% com sabonete das mãos ou o velhinho azul e branco, 32% limita-se a passar água no rosto e somente 22% faz uso de um tónico. Há ainda um valor alarmante: 31% das portuguesas diz que não faz limpeza de rosto porque não tem paciência.

Depois de uma noite a dançar na discoteca ou depois de chegar tarde do trabalho, nem sempre apetece perder tempo a tirar a maquilhagem, a limpar a pele e a aplicar cremes e loções. Mas a verdade nua e crua é esta: não limpar o rosto cria danos irreversíveis.

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Há outros números igualmente alarmantes: uma pesquisa levada a cabo pela empresa de colchões Ergoflex UK concluiu que, apesar de todos os efeitos negativos de se dormir com maquilhagem, uma em cada quatro mulheres continua a fazê-lo para estar bonita ao lado do companheiro. Destas, 52% estava numa relação há menos de um ano mas 12% admitiu estar há mais de dez. E pior: 95% assumiu que mantém esta rotina em segredo.

Se pratica este tipo de comportamentos, por insegurança ou preguiça, relembramos que, em 2013, uma jornalista do jornal britânico Daily Mail fez uma experiência ao não limpar o rosto durante um mês e os resultados foram chocantes: os especialistas concluíram que envelheceu dez anos. E se (ainda) acha que estas são apenas campanhas patrocinadas pelas empresas de cosméticos, fomos procurar algumas respostas.

As consequências dos maus cuidados com a pele

Questionámos Miguel Trincheiras, especialista em Dermocosmetologia, sobre os problemas que mais levam as mulheres às suas consultas — acne tardio, rosácea, secura cutânea, dermites (irritações ou alergias) e envelhecimento. E, embora a radiação solar seja a maior causadora dos danos da pele, todos estes problemas estão relacionados com a má higienização. “A pele é um órgão de relação — liga o exterior ao interior, daí que a sua barreira de proteção tenha de ser brutal. Para manter a sua capacidade de impermeabilidade ao meio externo, a pele tem de ter cuidados adequados para que a defesa seja eficaz e equilibrada”, diz o dermatologista. Sintetizando, todas nós temos sebo na pele. Este forma um manto hidrolipídico que impede a derme de perder água e desidratar. Mas este sebo também acumula impurezas e bactérias que temos de remover, todos os dias. Todos, independentemente do tipo de pele que temos.

circa 1955:  A woman rubbing her face with cotton wool to remove make up or apply moisturiser.  (Photo by Jacobsen /Three Lions/Getty Images)

© Jacobsen /Three Lions/Getty Images

E é muito fácil perceber esta dinâmica — Helena Margarida Ribeiro, professora na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, explica-nos de forma clara: por um lado, uma pele oleosa, face a uma falta de higienização, vai produzir ainda mais óleo para compensar. O mesmo se diz quando se limpa a pele com produtos errados (como o gel de banho, os sabonetes ou leites de limpeza para outros tipos de pele). É o chamado efeito rebound: ao anular-se o excesso de sebo, a pele produz ainda mais sebo. Por outro lado, a pele seca tem pouca barreira de proteção e a limpeza deve ser suave, com produtos próprios para pele seca, para não danificar a pouca proteção que tem. Em melhor posição estão as peles normais, porque aguentam quase tudo. Mas atenção: não aguentam a falta de limpeza. E mais cedo ou mais tarde, os efeitos começam a sentir-se.

Com maquilhagem ou sem maquilhagem?

Se ainda acha que a maquilhagem, por estar cosmeticamente preparada para ser aplicada na pele, não a vai danificar, está enganada. Álvaro Santos, bioquímico especialista em dermocosmética, explicou-nos que “os produtos maquilhantes não contêm propriedades nocivas para a pele, é verdade, e, hoje em dia, além do seu efeito cosmético decorativo, a maioria já contem ativos que a protegem dos agentes externos agressivos, como os raios solares, o ar seco, os fumos ou outros poluentes. Algumas bases têm mesmo qualidades hidratantes e nutritivas. Mas estas funções são apenas acessórias, não protegem a barreira da pele e não impedem totalmente as permutas com o meio exterior. Além disso, facilitam a aderência de poeiras e outras impurezas, daí a obrigação de que seja removida à noite — quando a atividade fisiológica é mais intensa — para permitir o contacto da pele com o ar”.

E se acha que, por não usar maquilhagem, não tem de fazer limpeza, também está enganada. A pele tem de ser limpa porque está exposta, e esta é a mensagem a reter. Se limpamos diariamente o corpo, que fica escondido debaixo das roupas, faz sentido não limpar o rosto?

Como fazer uma limpeza de pele exemplar

Primeiro, deve-se limpar o rosto com desmaquilhante, leite, gel de limpeza ou água micelar. Este é o passo que vai retirar todas as impurezas que se acumularam durante o dia. Quem se maquilha e usa máscaras e sombras de olhos, deve usar produtos específicos para esta zona mais fina porque são menos agressivos e evitam a necessidade de esfregar. Se não tiver desmaquilhante próprio para olhos, opte por água micelar porque a sua fórmula retira mais facilmente a maquilhagem.

Depois de limpar, e esta é uma dúvida de muitas mulheres, é obrigatório passar um tónico na pele ou, na sua ausência, passá-la por água. Cientificamente falando, a nossa pele tem um pH ácido, à volta do número 5, para evitar contaminações externas. Quando limpamos a pele, os produtos de limpeza, que têm pH neutro, deixam a pele com um pH mais elevado, à volta do número 7. E um 7, na pele, é mau. O que o tónico vai fazer é baixar o pH da pele novamente para o 5 — para ela continuar com uma barreira de proteção forte.

Helena Margarida Ribeiro, habituada a trocar tudo por miúdos, dá-nos uma comparação fácil de reter. Tal como a roupa e a loiça têm de enxaguar depois da lavagem, o tónico equivale ao enxaguamento da pele. Todas estas fórmulas — desmaquilhantes, leites, águas micelares — deixam resíduos na pele que vão ser, então, retirados com os tónicos (ou a água).

Agora que já percebeu quão mal faz dormir com maquilhagem, vale a pena continuar a usar a preguiça e a falta de tempo como justificação?