Amigo de Stock da Cunha, que teve ao seu lado no Lloyds até agosto passado, António Horta Osório faz-lhe um rasgado elogio ao trabalho feito no Novo Banco. E abre-lhe caminho, na resolução de um problema que continua por resolver: “A função dele é relançar o banco comercialmente – o que já fez -, mas também resolver os inúmeros problemas que herdou”, como o dos depositantes que compararam dívida do Grupo Espírito Santo ao balcão do BES. “Já resolveu 80% do problema”, diz o banqueiro, deixando um claro desafio ao governador Carlos costa:

“É muito importante que o Banco de Portugal diga rapidamente como o Novo Banco pode resolver isto. É uma questão de boa-fé no instituto bancário. Para além disso foi criada uma reserva para resolver este problema, foram criadas expectativas pelo regulador às pessoas de que o problema seria resolvido. Pelo que eu acho que seria muito grave se o Banco de Portugal não permitisse rapidamente à administração do Novo Banco resolver esta questão.”

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A terceira missão da equipa ao comando do Novo Banco é o da venda. Melhor dizendo, o de “minimizar a perda” – que Horta Osório dá por natural. “O Novo Banco perdeu a marca, perdeu a confiança (que agora está a recuperar), obviamente que vai haver uma perda, a missão dele é a de minimizar essa perda”.

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Neste capítulo, o mais longe que vai é de desejar que haja “concorrência”, ou seja, vários candidatos. “Penso que existirão haver candidatos fortes, nomeadamente chineses. Há bancos grandes em Portugal (não os maiores) que podem estar interessados, há o BPI – que vamos ver como se desenvolve”. O objetivo de minimizar as perdas tem outro implícito: só assim se reduz também “a perda para os contribuintes – na medida em que a perda será para os bancos, mas o maior é a CGD, que é um banco público”.

Não havia alternativa à resolução

Falando-se na crise do GES, é obrigatório falar também da medida de resolução que foi aplicada ao BES pelo Banco de Portugal e pelo Governo. Nesta entrevista ao Observador, o banqueiro explica por que não via outra saída – e sobretudo por que razão não era igual fazer uma recapitalização do BES na mesma medida que aconteceu com outros bancos, no tempo da troika.

“Eu penso que não havia alternativa (à resolução) e veria muito mal os contribuintes terem que pagar com os seus impostos para uma solução de fraude – que não tem nada a ver com as ajudas para a capitalização da banca portuguesa.”

A fraude de que fala refere-se sobretudo ao que aconteceu nas últimas semanas/meses de atividade do BES. “Estou a falar dos 1.500 milhões de euros que desapareceram com obrigações colocadas, que levaram a que tivessem de ser recompradas depois”, por exemplo, diz o banqueiro. Foi isso que mudou a intervenção que estava pensada – uma recapitalização com capitais privados.

“Foi uma infelicidade”, diz Horta Osório, colocando aspas na expressão. “Mas essa infelicidade tem culpados. Há um inquérito parlamentar a correr. Espero que este problema seja rapidamente apurado nos tribunais e também nos reguladores. Há enormes responsabilidades e terá que haver culpados. Para bem do respeito que as elites deviam merecer.

Quanto à PT…

“é um caso de igual gravidade, de uma gravidade extrema. É de uma leviandade extraordinária ter sido possível.

Centros de decisão nacionais para quê?

Nesta entrevista a Maria João Avillez, Horta Osório volta ao que se passou nestas duas empresas quando é questionado sobre a privatização da TAP – e a hipótese de o país perder a sua companhia aérea de bandeira.

“Eu tenho forte oposição à ideia dos centros de decisão nacionais. Não deve haver um centro de decisão sem excelência de gestão. Aquilo que se provou com o caso Espírito Santo e o caso PT, entre outros, é que os centros de decisão são uma maneira airosa de alguns ganharem muito dinheiro à conta de muitos. Sou fortemente contra tudo o que não é em relação ao mérito, ao profissionalismo, à criação de riqueza.”

Sobre a TAP e o seu destino, fica a forte convicção do banqueiro de que não importa se há gigantes entre os candidatos. “A questão não é sobre se tem um grande comprador, mas se fizermos um processo transparente, em princípio teremos o melhor comprador disponível. O que os portugueses devem pensar é se essa é a melhor alternativa ou deixar a TAP nas mãos do Estado. Se preferem enterrar mais dinheiro na TAP ou se é melhor entregar ao melhor privado, pelo melhor preço possível e deixar de pagar esses impostos que servem para pagar os défices da TAP”.

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BPI: Solução passa sempre pelo La Caixa

Outro tema do momento: a proposta de OPA do espanhol La Caixa sobre a totalidade do BPI – e a contraproposta da angolana Isabel dos Santos, uma fusão do BPI com o BCP. No meio, fica Fernando Ulrich, que recusou o preço inicial da OPA e está ainda sem resposta para a ideia da sua segunda acionista:

“Eu penso que a administração do BPI está numa posição muito difícil. É muito dificil aceitar os recomendar uma OPA a 1,3 euros por ação quando há nove anos se recusou uma OPA a 7 euros – precisamente a mesma administração. Compreendo perfeitamente as dificuldades”.

Horta Osório tenta não tomar partido, neste jogo de xadrez que já vai longo e sem fim à vista. “Caso a OPA do La Caixa fosse bem-sucedida, eu acho que isso ia tornar o BPI um banco mais forte, com mais recursos. E ia fortalecer as condições do BPI de concorrer pelo Novo Banco”. E também a aproximação ao BCP “tem mérito económico, de criar um grande banco, com sinergias, tal como tinha há nove anos – na tal proposta a sete euros que foi recusada”.

Mas a situação “está muito complicada”, admite o banqueiro, porque os estatutos do banco estão blindados (o La Caixa tem mais de 40% do banco, mas os seus votos em assembleia-geral só valem 25% – uma limitação que merece a sua mais veemente crítica). Solução?

“A La Caixa não pode sozinha resolver este processo, mas também nada se resolve sem o La Caixa. O La Caixa é crítico para qualquer solução. Dado que nada se resolve sem o La Caixa, isto vai ter que levar a um entendimento entre os acionistas do BPI.

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A banca terá adaptação difícil à nova supervisão do BCE

Pelo meio, Horta Osório fala também das novas regras da supervisão bancária, agora nas mãos do BCE – no que respeita aos maiores bancos portugueses.

“É outro jogo, é passar a uma divisão diferente”, diz o banqueiro, que tem vista privilegiada para o problema a partir de Londres. E como é que se passa para essa divisão? “Passa-se com dificuldades. Os bancos têm que fazer uma adaptação, que passa por ter rácios de capitais mais estritos. Há um diálogo que é harmonizado a nível europeu, com supervisores supranacionais. É um caminho difícil para os bancos, mas que vai criar bancos mais fortes, que vão poder apoiar a economia portuguesa para as dificuldades do futuro.”

Esperança, uma vez mais? “Os bancos portugueses do setor privado estão melhorar rapidamente”, responde o mais prestigiado banqueiro nacional.