Lee Kuan Yew, fundador da Singapura pós-colónia britânica e primeiro-ministro do país entre 1959 e 1990, morreu na noite de domingo aos 91 anos, conta o Wall Street Journal. O antigo governante estava internado desde 5 de fevereiro, altura em que deu entrada no Hospital Geral de Singapura com uma pneumonia grave.

“Para muitos singapurenses, ele era a Singapura”, disse Lee Hsien Loong, o filho e atual primeiro-ministro daquele país. O Governo confirmou que a morte do antigo líder aconteceu durante a madrugada e de forma “pacífica”, conta o El País.

Lee Kuan Yew transformou a Singapura num importante centro financeiro mundial graças às políticas amigáveis que piscavam o olho ao investimento estrangeiro. Outra das suas bandeiras era a eliminação da corrupção. Essas medidas permitiram à Singapura fugir da conotação de país de terceiro mundo e garantir outro estilo de vida aos seus habitantes. Segundo a Folha de São Paulo, o rendimento per capita atual estaciona acima dos 54 mil euros. O WSJ vai mais atrás e lembra que esse rendimento fixava-se nos 473 euros em 1965. O jornal norte-americano conta ainda que 90% dos habitantes daquele país vivem em casas compradas por si.

Apesar de ter colocado este país no mapa comercial e financeiro, nem tudo são rosas. Yew, acusado de amordaçar os media e políticos da oposição, fica associado a várias práticas autoritárias, que dizia serem fundamentais para garantir a estabilidade de um país com diversas etnias e religiões.

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Descendente de uma família rica de etnia chinesa, Yew nasceu na Singapura britânica. Depois estudou na Universidade de Cambridge, em Inglaterra, regressou ao país para lutar pela independência e fundou o Partido de Ação Popular. O sentimento nacionalista e anticolonial empurrou-o para a cadeira de chefe de Governo em 1959. Quando chegou ao poder, a Singapura fazia parte da Federação Malaia, da qual se tornaria independente em 1965, após o registo de relações tensas com a Malásia.

“Ele lutou pela nossa independência, construiu uma nação onde não havia nada, e tornou-nos orgulhosos por sermos singapurenses. Não veremos outro homem igual a ele”, disse Lee Hsien Loong, o filho e atual primeiro-ministro da Singapura, citado pela BBC.

A grande dependência face aos malaios e a falta de recursos naturais centrou a sua política na economia. O El País diz que fundou uma “sociedade sem alma própria”, que celebrava a meritocracia, o pragmatismo e a ordem. E lembrou umas palavras polémicas, numa entrevista a um jornal local, que ajudam a perceber a essência da sua governação: “Às vezes acusam-me de interferir na vida privada dos cidadãos. Se não o fizesse, não estaríamos aqui. Digo-o sem qualquer remorso: não teríamos feito tal progresso económico se não tivéssemos intervindo em assuntos muito pessoais. (…) Nós dizemos o que está correto, não interessa o que as pessoas pensam.”

Phil Roberson, da Human Rights Watch, reconhece a importância de Yew no desenvolvimento do país, mas lembra ao Wall Street Journal que muito dessa evolução se deveu a atentados contra os direitos humanos. “O papel de Lee Kuan Yew no desenvolvimento económico na Singapura foi tremendo, mas aconteceu também à custa dos direitos humanos. A restrita liberdade de expressão, a autocensura e a democracia multipartidária atrofiada são também parte do seu legado, que a Singapura necessita ultrapassar.”

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, considera Yew um “verdadeiro gigante da História, que será recordado por gerações como o pai da Singapura moderna e um dos grandes estrategistas dos assuntos asiáticos”. Já o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmou estar “profundamente triste” pela notícia.

Os restos mortais de Yew permanecerão até quarta-feira no Parlamento da Singapura para que os cidadãos homenageiem o antigo líder. O país ficará de luto durante sete dias.