O presidente da Transportes de Lisboa, Rui Loureiro, disse à agência Lusa que existem trabalhadores da empresa interessados em rescindir o contrato de trabalho, estando em causa cerca de 350 casos.

A Transportes de Lisboa, que agrega a Carris, Metropolitano de Lisboa e Transtejo/Soflusa, pretende rescindir contrato com cerca de 350 trabalhadores, disse Rui Loureiro, confirmando uma notícia hoje publicada pelo Diário Económico.

Segundo o presidente da Transportes de Lisboa, a rescisão de contratos “tem a ver com a otimização dos recursos e a unificação das empresas”.

“Quando se juntam empresas grandes em termos das áreas corporativas, necessariamente, temos sinergias que se ganham e fica pessoal excedentário, o que não se passa por exemplo em termos operacionais. Ao nível operacional, não podemos reduzir, uma vez que continuamos a necessitar dos maquinistas, dos motoristas, dos marinheiros. Ao nível corporativo, é normal que isto suceda”, explicou Rui Loureiro.

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Questionado sobre se os trabalhadores já foram informados formalmente sobre a possibilidade de rescindir contratos, o responsável da empresa disse que “ainda não”, mas que “as pessoas sabem, tem havido alguns contactos”.

“As pessoas sabem que não vamos fazer despedimentos, o que vamos fazer são negociações por mútuo acordo”, afirmou Rui Loureiro.

“Há muita gente que, de facto, nos contactou no sentido de que está disponível para essa opção, para sair da empresa”, acrescentou.

O processo de subconcessão da Carris e do Metropolitano de Lisboa está numa fase de responder às questões dos potenciais candidatos, que espera-se concluída na segunda-feira, “a partir daí entrar-se-á no período de entrega de propostas”, que prevê-se concluído no fim do mês.

De acordo com o presidente da Transportes de Lisboa, existem cerca de 15 interessados na subconcessão, mas, “naturalmente, existirá sempre uma percentagem que não o fará”, pelo que esperam que haja cinco ou seis a candidatar-se.

Em relação ao funcionamento das empresas após a subconcessão, Rui Loureiro afirmou que “nada” vai mudar, acrescentando que “continuarão a fazer o serviço público que está estabelecido, as rotas que estão estabelecidas, as frequências que estão estabelecidas, o que mudará de facto é a forma de gerir a operação”.

O secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, anunciou a 26 de fevereiro, após a reunião do Conselho de Ministros, que a subconcessão das operações do Metro de Lisboa e da Carris deverá estar concluída até ao final de julho, no seguimento do concurso público internacional.

Os contratos a estabelecer com as empresas subconcessionárias preveem que estas vão ser obrigadas à renovação das frotas, nomeadamente na Carris, “quando estas atingirem uma determinada idade, por veículos de menor idade”, indicou também Sérgio Silva Monteiro.

O Governo prevê uma poupança de 170 milhões de euros durante a vida dos contratos, que serão no máximo de “cerca de 10 anos”, tendo em conta o que irá ser pago às novas entidades subconcessionárias e os valores que têm sido pagos atualmente, sublinhou então.

Na quinta-feira, os trabalhadores da Carris Lisboa fizeram uma greve de 24 horas e realizaram uma marcha de protesto, que ligou a Estação de Santo Amaro, em Alcântara, e a Assembleia da República, juntando cerca de uma centena de pessoas, enquanto a Comissão de Trabalhadores (CT) da Carris e algumas estruturas sindicais organizaram também um debate, no cinema São Jorge, para analisar o caderno de encargos e o impacto da subconcessão para a empresa e os trabalhadores, com a participação de investigadores.

Nessa sessão, a coordenadora da análise do caderno de encargos da subconcessão da empresa para os órgãos representativos dos trabalhadores, a historiadora Raquel Varela, considerou estar em causa, não só um “negócio para o setor privado”, mas a “destruição do direito ao trabalho” na empresa, ao “abrir” a possibilidade de despedimentos e “reduzir brutalmente os salários”.

Entre as conclusões da análise ao documento, a especialista do Observatório para as Condições de Vida da Universidade Nova de Lisboa enumerou o “despedimento coletivo na casa mãe”, que deverá abranger entre “500 a 600” trabalhadores que “não terão atividade” para desenvolver.

Em relação ao impacto económico das greves, Rui Loureiro afirmou andar “à volta de 100 mil euros, por cada dia de greve, em cada uma das empresas”, reforçando que “o prejuízo é muito mais para a população do que para as empresas”.

“A população sente-se de alguma forma defraudada, tendo em consideração que paga os seus bilhetes, paga os seus passes e depois não pode utilizar, e esse dinheiro de facto eles não são ressarcidos disso”, explicou o presidente da Transportes de Lisboa.

A Transportes de Lisboa teve “um crescimento, neste primeiro trimestre, de 5 % de volume de negócio e 4% de passageiros”, mas as dívidas têm-se estado a abater, porque “o Estado tem estado a injetar no capital social das empresas para redução de divida”.