“Com o seu telefone, fotografe quadros de pessoas que estão nas paredes dos museus e leve-as para as paredes da rua.” Este é o desafio lançado por Julien de Casabianca, artista e cineasta francês que criou o Outings Project.
A ideia surgiu quando o artista visitou o museu Louvre. Enquanto a maior parte dos visitantes se deslumbrava com a “Mona Lisa” de Leonardo da Vinci, Julien focou a sua atenção no quadro de uma rapariga prisioneira, “Mademoiselle Caroline Rivière”. Nessa altura, teve um impulso de “príncipe encantado” e decidiu libertá-la do museu. Depois deste impulso — que não se traduziu numa saída de cavalo branco, mas sim num registo fotográfico no Instagram –, Julien percebeu o poder que a partilha tem na divulgação da arte.
Ao Observador, o artista explicou que o objetivo deste projeto é fazer uma reapropriação da arte clássica sobretudo pelos jovens, tornando o interior do museu acessível a mais pessoas. O conceito do Outings Project é então fotografar obras nos museus com telefones, imprimir as imagens e colá-las em paredes. Ou seja, atualmente, pela proximidade que todos têm com as câmaras dos telefones, cada um pode captar a sua visão das obras, registá-la e dá-la a conhecer ao mundo.
“Algumas pessoas dizem que hoje em dia se vai ao museu não para apreciar as pinturas mas para apreciar os registos por telemóvel. Esqueceram-se de algo muito importante: quando tiramos fotografias, estamos a concentrar-nos no que vemos a partir delas. Não é uma diluição do olho. Com os telefones, as pessoas tornaram-se atores da sua visita ao museu, e não apenas passivos receptores de conhecimento. “A fotografia é uma arte, mesmo se for feita como um amador, mesmo se se estiver a tirar uma fotografia má a um gato: é um ator por tomar atenção ao que vê, por capturá-lo e depois dá-lo a conhecer. Este ato, de registar algo e de o mostrar, é a essência da arte”, acrescenta o artista.
Até agora o Outings Project levou 200 quadros para ruas de 80 países. Ao mesmo tempo, fez de 100 adeptos do Instagram e dos registos fotográficos por telefone, 100 artistas, como explica Julien: “Cada corpo pode[participar no projeto] mesmo não tendo na mão o incrível dom do gesto artístico. Não é apenas para uma elite, ou somente para as pessoas que sabem desenhar ou pintar. Se é possível colocar um pouco de cola num papel, então tem-se nas mãos o poder de artistas.”
Para além dos visitantes, dezenas de museus já se juntaram à iniciativa, convidando Julien a visitá-los e a registar a visita através da câmara fotográfica do smartphone.
Ainda que reforce que o conhecimento profundo de cada obra seja feito em museus, onde as legendas, as explicações áudio e os guias orientam a compreensão e estimulam a aprendizagem, para Julien as emoções e o contemplação da estética dos quadros pode e deve ser feita em simples passeios rotineiros.
O Outings Project ainda não embelezou as ruas de Portugal. Mas como o projeto tem apenas um limite — “colar todas as obras de todos os museus do mundo nas ruas” –, pode estar para breve. Afinal, há ainda muitas paredes para servirem de tela e muitos artistas para as “pintar”.