As meninas que estão nas fotografias nasceram rapazes e os meninos nasceram raparigas. Durante 12 anos, estas crianças viveram uma viagem incrível. Sarah Wong viajou com elas. Levou consigo a máquina fotográfica, objeto de profissão, para registar alguns momentos que deram origem ao livro “Inside Out: Portraits of Cross-Gender Children”.

As crianças e jovens transgénero retratados tinham na altura entre 5 e 17 anos e estavam ou ainda estão num processo de transição para o género com que se identificam. Sarah começou a fotografá-los em 2003 a pedido dos pais. Tinha terminado um livro sobre as crianças de um hospital e conheceu estas crianças de “género cruzado”.  Elas não recearam ser fotografadas. Pelo contrário. “Adoraram a câmara porque as fotografias refletiam a alma delas”, explica a fotógrafa em entrevista ao Observador.

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Boy (2009) e Boy with boxing trainer (2010). (Créditos: Sarah Wong)

“Com os retratos queria dar-lhes mais segurança — sem sensacionalismos jornalísticos. Quando as pessoas viram os retratos disseram: ‘que crianças tão queridas, mas quem são elas?’ As fotografias mostram realmente miúdos queridos, mas com uma noção muito forte daquilo que realmente são“, explica a artista que está empenhada agora no projeto Soulflowers.

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“Percebi a procura que eles fazem por uma nova identidade. Enquanto fotógrafa, estou sempre a refletir o interior”, conta Sarah Wong ao Observador. As fotografias foram tiradas nos espaços da vida das crianças — nas casas, nas escolas ou nas aulas de ballet.

Todos seguiam um programa desenvolvido por Peggy Cohen-Kettenis, que fundou em 1987 uma das primeiras clínicas na Europa para crianças e adolescentes com disforia de género, instalada no hospital da Universidade de Amesterdão, Holanda. Alguns deles tomaram ou estão a tomar alguns medicamentos hormonais para atrasar ou para desenvolver os sinais da puberdade, como o crescimento de barba ou o desenvolvimento das mamas.

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Girl (2003) e Girl (2009) (Créditos: Sarah Wong)

E porque é que Sarah achou importante dar visibilidade a estas histórias? “Sempre me interessei pela questão da identidade e, muitas vezes, senti-me mais como psicóloga do que como fotógrafa. Percebi logo desde os 21 anos, ainda na escola de artes que, enquanto artista, as tuas fotografias podem ter um grande impacto na opinião pública. É muito importante que a sociedade veja estas imagens. Não há nada de extraordinário nas crianças transgénero. No fim de tudo, nós somos todos iguais: somos todos almas que querem viver felizes e dar sentido à nossa vida e à dos outros”, conclui.