Em tempo de crise, toda a ajuda é pouca, e por estes dias em Atenas, a crise é profunda. Numa das maiores avenidas de capital grega, uma padaria decidiu oferecer pão aos mais necessitados enquanto os bancos estiverem fechados. A campanha começou na sexta-feira e vai durar “enquanto for preciso”, diz uma trabalhadora da padaria ao Observador.

Muitos carros e poucas pessoas. Na avenida Kifisas em Atenas, tudo parece estar de passagem. Aqui, uma padaria (de uma cadeia) faz a sua parte para ajudar a população da cidade. Quem aqui passa à porta vê um cartaz com a oferta: desempregados, pensionistas, pessoas em dificuldade, podem simplesmente passar e pedir pão.

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Publicidade? “Não quero saber. Nesta altura, já me tiraram tudo. Só quero poder dar comida à minha família”, diz Eleni, de 59 anos. Pedimos para lhe tirar uma foto, nega: “Posso estar a pedir pão, mas ainda tenho alguma dignidade”.

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Como Eleni, os poucos que esperam na fila durante a tarde abrasadora, recusam ver-se nos jornais. Quem aceita falar, mostra a sua revolta, como todo o sistema político: “Só temos corruptos neste país. São todos eles. Nova Democracia, PASOK, Syriza. São todos iguais. Quem sofre somos nós”, diz Christos, 35 anos, desempregado.

Com tantas dificuldades, porquê tão poucas pessoas? “De manhã tivemos muitas pessoas, especialmente mais velhas. Ainda agora começámos a dar pão, tenho a certeza que se passar cá amanhã de manhã vai encontrar mais pessoas”, explicada a trabalhadora da padaria.

A Venetis diz que vai continuar a dar pão até os bancos reabrirem, algo que, segundo o Governo, deve acontecer logo após o referendo. E se não for assim? “Não sou eu que mando, mas é o mínimo que podemos fazer. Há muita gente com muitas dificuldades. Em Portugal, não fariam o mesmo?”, pergunta a trabalhadora.

O grupo tem mais padarias pela cidade e todas têm o mesmo sinal. As filas não têm o tamanho das esperas à porta dos bancos para quem quer levantar dinheiro, mas esperam-se que cresçam na próxima semana.

“Se os bancos não abrirem na segunda-feira, acho que isto vai piorar e muito”, diz a trabalhadora. Para já, quem precisar, pode passar numa destas padarias e levar o seu pão. “Tentamos dar só um por pessoa, tem de chegar ao máximo de pessoas possível”, explica a mesma trabalhadora.