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Hábitos. Mais livros, mais computadores e mais espetáculos

Este artigo tem mais de 5 anos

Desde 2008, que não havia tantos espetáculos. Os livros publicados também estão perto do máximo histórico. E o número de famílias com computador continua em crescimento. Serão tudo boas notícias?

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©Andreia Reisinho Costa

©Andreia Reisinho Costa

Em 2011, ainda Pedro Passos Coelho e José Sócrates se digladiavam na arena das legislativas e já a intenção do PSD de extinguir o Ministério da Cultura fazia correr muita tinta – Manuel Maria Carrilho, ex-tutelar da pasta, chegou a dizer na altura que seria um “certidão de óbito” passada a um setor que “está completamente morto há muito tempo”. A verdade é que, desde 2008, e depois de uma quebra acentuada durante o período da intervenção da troika, que os indicadores não eram tão positivos. Há mais espetáculos, livros publicados e computadores em casa dos portugueses. Será sinónimo de recuperação económica?

Miguel Tamen, professor e diretor do Programa em Teoria da Literatura na Universidade de Lisboa, acredita que “não tem qualquer fundamento relacionar estes dados com a evolução da conjetura económica”.

E começa por dar o exemplo da rubrica dos agregados familiares com computador, com ligação à Internet e com ligação à Internet através de banda larga. Em 2014, esses valores fixaram-se na casa dos 65%, uma evolução muito significativa face a 2002, quando apenas 26,9% dos portugueses tinham computador em casa, 15,1% tinham acesso à Internet e a ligação de banda larga nem sequer era contabilizada. De 2011 para cá, no entanto, o valor tem oscilado pouco: em 2011, o número de famílias com computadores em casa era de 63,7%; em 2014, o valor fixou-se nos 68%.

Para Miguel Tamen, tal pode significar apenas que atingimos, neste momento, “um máximo natural” que não tem que ver com a “tal diminuição do rendimento disponível”. Também Pedro Mexia, cronista e crítico literário, prefere não estabelecer qualquer relação entre este “abrandamento” e os bolsos dos portugueses – “suponho que tal deve acontecer com qualquer bem ou serviço, é quase universal”, acrescenta.

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As dúvidas de Tamen acentuam-se quando o assunto é o crescimento dos espetáculos ao vivo em Portugal. De acordo com os dados do Pordata, só em 2013 – o último ano que consta no portal – é que o país se conseguiu aproximar dos máximos históricos registados em 2008. Há dois anos o país teve 29 mil espetáculos, entre exibições de teatro, concertos e outros eventos artísticos ao vivo, com uma média de 9 mil espetadores por sessão. “[Ora], é preciso perceber quantos são pagos pelo público e quantos são pagos pelos contribuintes direta ou indiretamente”, antes de tirar qualquer conclusão, explica o diretor do Programa em Teoria da Literatura na Universidade de Lisboa.

Pedro Mexia adianta outra hipótese: “Essa é uma das áreas que acaba por ser menos afetada pela crise”, começa por explicar o comentador, antes de dar o exemplo dos festivais, que estão, em parte, a “compensar a perda de contacto” dos consumidores com a música. Os festivais de verão, assim como acesso à música através da Internet, são a nova forma viver a música, quando antes essa ligação se fazia através do consumo de CDs, cassetes e vinis.

Entre computadores e espetáculos, também a publicação de livros e de publicações periódicas está a crescer a um ritmo positivo, ultrapassada a crise dos primeiros anos de governação de Passos Coelho. Se em 2012 o número de títulos registados no âmbito do Depósito Legal foi o terceiro mais baixo de que há registo – só 2000 e 2001 tiveram valores inferiores -, em 2014, o valor está próximo dos máximos históricos registados em 2008 – 17.223 e 17.778, respetivamente. Isso significa que, superada a crise, os portugueses têm mais dinheiro para comprar livros e ler jornais? Não necessariamente, concordam Miguel Tamen e Pedro Mexia.

“Estes números dão logo uma tentação enorme de os correlacionar com a evolução da economia. Mas devemos ser mais cautelosos nessa análise”, avisa Miguel Tamen. Primeiro, porque é preciso perceber que títulos são “produzidos por editoras comerciais, pelas editoras institucionais e pelos próprios autores – há muitas editoras que já exigem aos autores que paguem para publicar os livros”.

Tal como Tamen, também Mexia acredita que estes números devem ser analisados à luz “da democratização da autoria”. “Hoje em dia é quase vergonhoso não escrever um livro. Qualquer figura pública [que se preze] tem de escrever um livro”. Uma eventual ligação entre o aumento da publicação de livros e de publicações periódicas e o alívio da crise portuguesa “levanta, [por isso], muitas dúvidas”, explica Mexia. Não pode também ser excluído “o facto de a publicação de livros e jornais se terem tornado tecnologicamente mais baratas”, acrescenta Tamen.

De resto, o diretor do Programa em Teoria da Literatura na Universidade de Lisboa tem uma visão que, diz, não responde a uma tendência mais generalizada entre muitos sociólogos, que olham para a cultura como os primeiros anéis a saírem dos dedos quando a crise atinge os bolsos dos portugueses. “Não é para mim nada claro que os hábitos culturais sejam [meramente] hábitos ornamentais. Há pessoas com poucos rendimentos que vão ao teatro e quem compram livros [e até] A Bola; e há outras pessoas com mais rendimentos que nunca compram jornais”, justifica.

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