Havia espaço para 30 pessoas, mas só oito munícipes decidiram aparecer esta quinta-feira à tarde no Fórum Lisboa para esclarecer junto da câmara municipal as dúvidas que têm sobre a anunciada venda dos terrenos da antiga Feira Popular em hasta pública. Todos os oradores mostraram preocupações com o futuro da zona das Avenidas Novas e Fernando Medina, presidente da autarquia, disse partilhar algumas delas, mas rejeitou as críticas feitas pelos cidadãos à proposta.

“Lisboa necessita de espaços para escritórios e empresas para haver mais emprego na cidade e trazer mais pessoas para Lisboa”, defendeu o autarca na breve apresentação que fez, ainda antes de ser questionado por munícipes. O primeiro a tomar da palavra foi José Soares, da Associação de Moradores das Avenidas Novas, que precisamente pôs em causa o facto de a câmara destinar um mínimo de 20% daquela área à habitação. “Há ou não há uma política de repovoamento?”, perguntou, argumentando que esse mínimo deveria ser superior. Ao mesmo tempo, lembrou que a nova construção vai trazer “problemas de circulação” automóvel à zona e acusou a câmara de ainda não ter acautelado devidamente este impacto.

Na resposta, Fernando Medina, que estava ladeado pelo vereador do Urbanismo e autor da proposta, Manuel Salgado, e pelo diretor municipal de Urbanismo, António Furtado, reafirmou que o repovoamento de Lisboa “é uma prioridade do executivo”, mas que não deve ser feito através de construção nova. “Deve ser alicerçado na reabilitação urbana”, frisou, rejeitando também que a aposta num espaço com mais escritórios do que casas se tenha devido a um melhor encaixe financeiro para a autarquia. “Se a câmara olhasse apenas ao lucro, o que estaria aqui era uma proposta de 100% de habitação”.

Um outro participante do debate, Augusto Vasco Costa, disse que só estava na sede da assembleia municipal para “apelar ao bom senso” dos responsáveis autárquicos. Além de defender também mais habitação para aqueles terrenos, o munícipe salientou que “há que reduzir o número de pisos acima do solo de sete para quatro”, de modo a “preservar a silhueta” de Lisboa. A isto, Medina respondeu dizendo que rejeitava “qualquer radicalismo” sobre a matéria.

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O presidente da câmara teve ainda de ouvir de uma lisboeta a queixa de que “é com os executivos de esquerda que se destrói a cidade de Lisboa” e que “a degradação urbanística da cidade é absolutamente aberrante”. Sobre a Feira Popular concretamente, esta munícipe nada disse.

Medina, que se referiu aos terrenos da Feira Popular como “uma ferida no centro da cidade de Lisboa” e a todo o processo que lhes esteve associado como “complexo” e “traumático”, não quis ainda revelar a localização do futuro parque de diversões da capital, há vários anos prometido. “Estamos perto de estar em condições” de o fazer, disse aos dois munícipes que o inquiriram sobre o tema.

A Câmara Municipal de Lisboa aprovou no fim de junho a venda em hasta pública destes terrenos, com uma área de 42 mil metros quadrados, pelo preço base de 135, 7 milhões de euros. Quem ficar com eles terá de se comprometer a fazer todas as construções no prazo máximo de dez anos. “Quando concluirmos o trabalho nesta frente, será um dos dias mais reconfortantes para este executivo”, admitiu Medina.